Mesmo com os órgãos do governo e a mídia divulgando incessantemente informações sobre as formas de transmissão e prevenção do novo coronavírus, parte da população brasileira adota práticas de higiene inadequadas em relação aos alimentos. É o que mostra um estudo do Centro de Pesquisas em Alimentos (Food Research Center – FoRC), sediado na USP, Cidade Universitária.
O estudo entrevistou, em julho, 3 mil pessoas de todas as regiões do País, sendo a maioria mulheres, casadas e com alto nível de escolaridade.
A pesquisa, realizada por meio de questionário disponível na internet e divulgada pelas mídias sociais, revelou, por exemplo, que 52,3% das pessoas higienizam frutas de forma incorreta: 17,9% usam apenas água; 7%, água com vinagre; e 27,4%, água com detergente. “Menos da metade – 45,2% – usa solução de água com hipoclorito de sódio, o que realmente inativa o vírus de forma segura”, afirma o coordenador da pesquisa, Uelinton Manoel Pinto, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e um dos integrantes do FoRC.
“A água e o vinagre não possuem qualquer efeito sobre o vírus. Já o detergente, embora tenha poder de inativá-lo, pode deixar resíduos tóxicos no organismo humano”, explica o pesquisador, “lembrando que o uso desse produto também foi apontado por 10,6% para a limpeza das verduras”.
Contradição
O professor Manuel e duas pós-graduandas que estiveram à frente da pesquisa – a cientista de alimentos Emília Maria França Lima e a nutricionista Jéssica de Aragão F. F. Finger – se surpreenderam com o fato de que, apesar de haver entre os respondentes uma adesão alta (acima de 80%) em relação às medidas de prevenção da doença, como o uso de máscara, higiene das mãos e distanciamento social, “houve um certo relaxamento destes na hora de receber as entregas de comida comprada fora”. “Em uma situação de pandemia, na qual há um vírus altamente contagioso circulando, o questionário indicou que cerca de 30% não higienizam as mãos antes e depois da entrega da comida, nem mantinham distância segura do entregador.”
Em relação às embalagens do delivery, pouco mais da metade dos entrevistados (57,2%) disse higienizá-las. Quando questionados sobre a limpeza das embalagens de produtos comprados em supermercado, esse porcentual foi bem melhor. Mais de 80% afirmaram também higienizá-las. “E a maioria de forma correta: usando água e sabão, água com cloro ou álcool 70%.”
Cartilha
Para os pesquisadores, esses resultados mostram que ainda é necessário um reforço na comunicação sobre as medidas de prevenção. “Com o relaxamento do isolamento social, os casos de covid-19 ainda estarão acontecendo; a população, portanto, precisa ser lembrada da importância de manter os cuidados essenciais para evitar a transmissão do coronavírus.”
Segundo o professor Manuel, eles estão cientes de que a pesquisa não atingiu os segmentos da população mais vulneráveis, nos quais a desinformação é ainda maior. “A maioria dos entrevistados tinha alto nível de escolaridade: possuía pós-graduação ou graduação completa. Por isso, também foi elaborada uma cartilha com as principais orientações de prevenção da doença, que será disponibilizada nas redes sociais, sites especializados e aos participantes da pesquisa”, finaliza o pesquisador.
Veja a íntegra da pesquisa e baixe a cartilha aqui.
Mais informações: e-mail angela@academica.jor.br, na Acadêmica Agência de Comunicação
Angela Trabbold/Acadêmica Agência de Comunicação