Segundo dados do Ministério da Saúde, apenas em janeiro de 2024 o Brasil computou mais de 217 mil casos de dengue, o triplo de casos de 2023 no mesmo período. Apenas no Estado de São Paulo, já são mais de 30 mil casos confirmados. Mesmo diante dessa situação crítica, duas cidades da região de Ribeirão Preto se destacam com ações proativas no combate à doença: Santa Rosa de Viterbo e Serrana. Enquanto Santa Rosa de Viterbo usa armadilhas e análises laboratoriais, Serrana usa o georreferenciamento.
Assim, na contramão do restante do País, que começou o ano com a explosão dos casos de dengue, a cidade de Santa Rosa de Viterbo, nos primeiros dias de janeiro, teve a notificação de 15 casos da doença e somente uma confirmação. Os resultados também são positivos em Serrana: enquanto o início de 2023 registrou 24 casos de dengue confirmados, em 2024, neste mesmo período, os números naquele município caíram pela metade.
Tecnologia não é suficiente
Apesar dos avanços no controle da dengue nessas cidades, por meio do uso de tecnologias, o professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, Benedito Lopes da Fonseca, afirma que a população precisa fazer a sua parte. “É importante que nós, enquanto população, façamos a nossa parte e procuremos a presença desses criadouros da doença nas nossas casas.”
O professor diz que a tecnologia é sempre bem-vinda, mas não deve ser utilizada como estratégia de saúde pública. “É importante sim que se faça uma vigilância virológica nos mosquitos, mas também é necessário que se faça uma vigilância da doença nos seres humanos, pois é isso que dará a possibilidade aos profissionais da saúde de fazer o controle adequado dessa doença”.
Abordagem integrada
Em Santa Rosa de Viterbo, a 70 km de Ribeirão Preto, uma abordagem integrada entre métodos convencional e digital foi adotada com o objetivo de diminuir os casos de dengue na cidade. Em seus diversos bairros foram instaladas armadilhas projetadas para atrair o Aedes aegypti por meio de um composto não tóxico adicionado à água, que resulta na captura eficiente desses mosquitos.
Posteriormente, os insetos são encaminhados a laboratórios especializados e submetidos a análises de DNA e RNA, visando identificar possíveis infecções pelos quatro sorotipos conhecidos da doença. Essa abordagem busca controlar a proliferação do vetor e também proporcionar um diagnóstico mais preciso sobre a presença de agentes patogênicos.
Segundo André Nader, diretor do Departamento de Saúde de Santa Rosa de Viterbo, desde a instalação das 96 armadilhas espalhadas pela cidade e o uso de análise de DNA e RNA, o número de casos vem caindo. “Em 2022 nós tivemos 399 casos confirmados de dengue, já em 2023 esse número caiu para 148, uma queda de mais de 60%”. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde da cidade, todos os 148 casos registrados no ano de 2023 foram no primeiro semestre daquele ano.
Para além da queda no número de casos da doença, Nader explica que essa nova tática adotada no combate à dengue ajudou a melhorar a saúde financeira da cidade. “Nós tivemos em 2022 um custo social de R$704 mil em relação aos pacientes com dengue; depois da instalação das armadilhas, em abril de 2023, esse custo caiu para R$261 mil”. Por esse motivo e a baixa no número de casos, Nader afirma que a iniciativa será mantida e complementará as outras ações de combate à dengue que a cidade possui.
GPS e tablets como aliados
Na cidade de Serrana, distante 25 km de Ribeirão Preto, as armadilhas e testes de laboratórios dão lugar aos tablets e sistema de georreferenciamento no combate à dengue. A medida tem como objetivo facilitar a localização e mapeamento dos focos de criadouro da dengue na cidade.
Guilherme Montanari, secretário de saúde da cidade, explica que o georreferenciamento consegue apresentar dados estatísticos em tempo real. “O georreferenciamento vem trazer para a Secretaria de Saúde e para o poder público dados estatísticos de campo em tempo real. Dados esses que anteriormente só eram tabulados uma vez por semana e de maneira física, no papel.”
Com isso, a cidade de Serrana consegue mapear em tempo real os bairros e casas da cidade que possuem focos de criadouro do mosquito, facilitando o trabalho da Secretaria de Saúde do município e permitindo uma abordagem que direciona melhor os esforços e atenção do poder público.
Com esses dados, a Prefeitura criou um sistema de multas, que variam entre mil e R$100 mil e que podem aumentar, conforme a posição do criadouro e o seu risco para a saúde pública, ou seja, se há um criadouro do mosquito da dengue perto de uma escola ou hospital, a multa pode ser maior.
*Estagiário sob supervisão de Ferraz Jr e Rose Talamone
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