A excelência no tratamento aos pacientes de Acidente Vascular Cerebral (AVC) deu a Ribeirão Preto o título de Cidade Angels, a primeira no mundo a receber essa honraria, conferida pela Iniciativa Angels, movimento criado em 2016 pela empresa alemã Boehringer Ingelheim, para melhorar o atendimento e a qualidade no cuidado do AVC. A Iniciativa Angels já certificou mais de 6 mil hospitais em mais de 100 países, inclusive no Brasil, onde conta com apoio da Sociedade Brasileira de AVC e da Rede Brasil AVC.
Para uma cidade receber o título é preciso cumprir alguns requisitos, como ter um Centro de Referência de AVC, atendimento pré-hospitalar da cidade certificado, rede de atendimento de urgência e estratégia de educação nas escolas para debater medidas preventivas da doença, entre outros critérios. A Iniciativa Angels entendeu que Ribeirão Preto atende a todas essas exigências.
Como Centro de Referência existe o Serviço de Neurologia Vascular e Emergências Neurológicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP), pioneiro na região e coordenado pelo neurologista Octávio Pontes Neto, professor associado ao Departamento de Neurociência e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e coordenador da Rede Nacional de Pesquisa em AVC.
Pontes Neto diz que a titulação é um reconhecimento ao trabalho realizado e impõe desafios como o de manter e melhorar a estratégia nos cuidados ao AVC. “A Iniciativa Angels passou a certificar não só hospitais, mas a linha de cuidado ao AVC de Ribeirão Preto, como tem uma das linhas de cuidado mais bem estruturadas no País, foi escolhida como a primeira cidade a ser avaliada quanto a esse critério de certificação. Então foi uma avaliação extensa, eles avaliaram não só o nosso hospital, como o SAMU e a rede de atendimento regional.”
O professor diz que o reconhecimento é um importante incentivo. “É uma certificação que mostra o trabalho que foi feito aqui na região e que tem melhorado o atendimento desses pacientes. É um desafio ainda muito grande porque temos cerca de 2.200 pacientes com AVC por ano aqui na região. Essa certificação é um incentivo, mais do que isso, um impacto nos gestores para que o atendimento ao AVC seja uma prioridade na região.”
Nas escolas
A preocupação com o AVC entrou definitivamente no dia a dia das escolas municipais, com estratégia desenvolvida na capacitação dos alunos para identificar e tomar condutas frente ao AVC em seus familiares. “Essas ações foram desenvolvidas no Programa Saúde nas Escolas, por meio do Projeto Heróis Fast, em parceria com a Secretária Municipal de Educação. Cerca de 800 alunos da rede municipal, todos do terceiro ano do ensino médio, já foram capacitados”, afirma a secretária municipal da Saúde de Ribeirão Preto, Jane Aparecida Cristina.
O Projeto Heróis Fast foi desenvolvido pelo Departamento de Educação e Política Social da Universidade da Macedônia com apoio da Iniciativa Angels e se espalhou pelo mundo. Tem o objetivo de conscientizar sobre os sintomas do AVC da forma mais prática e rápida, fazendo as crianças divulgarem esse conhecimento entre a família e amigos. O Programa Saúde nas Escolas é uma iniciativa do governo federal para fazer uma articulação permanente entre saúde e educação nas escolas básicas do Brasil.
A secretária diz que para chegar a esse título, de Cidade Angels, foi preciso mais de uma década de trabalho. “Para alcançar essa qualificação, precisamos preparar e qualificar o atendimento do AVC de uma forma eficaz e oportuna e ter um sistema de transporte que possa levar esses pacientes para um hospital de referência o mais rapidamente possível.”
Por fim, Pontes Neto completa sobre o ensino de pré-sintomas do AVC no ensino educacional da cidade. “Foi iniciado aqui em Ribeirão Preto, para essa certificação, o programa de capacitação sobre AVC nas escolas da rede municipal. Para que a gente possa ir desde a educação da comunidade, a educação das crianças a reconhecerem os sintomas do AVC, o atendimento pré-hospitalar e a rede de cuidados ambulatoriais de reabilitação.” Segundo o professor, foram realizadas diversas oficinas com professores da rede pública de ensino, na Secretaria de Educação, que teve importante participação de alunos que compõem a Liga de Neurologia da FMRP, além do Centro Acadêmico da unidade.
*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior