Vape passa falsa sensação de segurança, mas é mais danoso à saúde que o tabaco

De acordo com Jaqueline Scholz, o tempo de exposição ao produto é menor que o do cigarro convencional para produzir doenças, e muitas vezes doenças graves

 18/04/2024 - Publicado há 7 meses
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As empresas divulgam a falsa ideia de segurança do vape, o que causou um aumento do consumo – foto: Lindsay Fox – Pixabay
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Preocupado com os riscos e danos causados à saúde pelo cigarro eletrônico, o Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina) da USP está realizando uma pesquisa, em parceria com a Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, através da coleta de dados de usuários do dispositivo em bares e restaurantes. Os participantes são informados sobre os danos, precocidade do uso, dependência e a contaminação em ambientes fechados. A Organização Mundial da Saúde, apesar de não ter autoridade sobre as regulamentações nacionais, pede a proibição dos cigarros eletrônicos. Ela recomenda que os governos tratem os vapes da mesma forma que o tabaco e proíbam os sabores, uma vez que o produto busca ser atrativo ao público jovem, entre 13 e 15 anos, com um marketing agressivo por parte dos fabricantes.

Jaqueline Scholz – Foto: Arquivo Pessoal

Jaqueline Scholz, diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo em Cardiologia do Incor, explica que o produto é muito mais danoso à saúde do que o cigarro. O uso precoce do produto, de forma muito mais intensa, promove uma exposição a substâncias como partículas ultrafinas, além da nicotina em alta concentração. “O que diferencia o cigarro convencional do eletrônico é que o cigarro convencional tem combustão, tem monóxido de carbono, alcatrão, e o cigarro eletrônico não tem, mas tem outras substâncias em maior proporção, como aromatizantes, saborizantes e também tem uma nicotina diferente, que é o sal de nicotina, que faz com que as pessoas tenham uma dependência muito mais intensa e mais precoce.”

As empresas divulgam a falsa ideia de segurança do vape, o que causou um aumento do consumo e, consequentemente, do número de jovens doentes. “Comparando fumaça de cigarro com o vapor, o aerossol do eletrônico, quando você procurava os produtos convencionais do cigarro, como monóxido, alcatrão, não tinha. Então, tem menos substâncias tóxicas, consequentemente, é mais seguro. Só que o tempo passou e essa questão da segurança hoje é alardeada no mundo, mostrando que de seguro não tem absolutamente nada.” De acordo com ela, quem fuma um maço de cigarros dá 200, 250 tragadas. No fumo eletrônico, em média, não se dá menos de 500, 600, 1.500 tragadas por dia, “e essa exposição frequente, intensa, é que está relacionada ao risco precoce de doenças pulmonares, que a gente já viu várias pessoas internadas com problemas respiratórios e mesmo em relação ao infarto AVC em pessoas jovens. Ou seja, o tempo de exposição ao produto é menor que o do cigarro convencional para produzir doenças, e muitas vezes doenças graves,”, diz a especialista. Resumo da ópera: a dependência ao vape é muito rápida e existe a expectativa de que a Anvisa ratifique a proibição do produto no País.

Consumo restrito

Maurício Stegemann Dieter – Foto: Reprodução/Direito-USP

Hoje, o consumo do cigarro eletrônico no País é mais restrito à classe média e média alta, ainda não atingiu o grande público, porque tem uma restrição, a comercialização é proibida, embora não esteja havendo fiscalização. “Eu imagino que, na medida que a Anvisa, que está discutindo essa questão para ver se ratifica essa posição, que é de proibição de comercialização, imagino que, uma vez que ela ratifique – espero que isso aconteça -, a fiscalização comece. Com isso, a gente vai reduzir com certeza o número de pessoas que estão expostas a isso, porque o produto tem cheiro agradável, aroma agradável, vendeu a falsa ilusão de segurança. Então, as pessoas experimentam achando que isso não tem problema, só que ele é altamente viciante e hoje eu trato jovens que vão muitas vezes com os pais desesperados para parar, porque querem parar e não conseguem e têm que se meter em um tratamento para poder parar, diz Jaqueline.”

Maurício Stegemann Dieter, professor da Faculdade de Direito da USP, destaca: “O uso do vape é ilegal e a posse desses instrumentos caracteriza uma infração administrativa e sua comercialização caracteriza um crime previsto no Código Penal”. Ele acrescenta que pode acontecer de o produto ser regulamentado, mas as autoridades sanitárias e as pesquisas científicas sobre o uso de cigarro eletrônico indicam um perigo agravado em relação à banalização do seu uso em relação aos danos diretos e colaterais à saúde, de maneira que não parece algo que vai acontecer em um horizonte próximo.


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