Acompanhe a entrevista da jornalista Silvana Pires com a professora Marilia Fiorillo da Escola de Comunicações e Artes.
Em 2016, a Turquia sofreu 23 atentados, vinculados tanto ao Estado Islâmico quanto a separatistas curdos. Esses ataques, que visaram desde aeroportos e bases militares, passando por estádios de futebol e até cerimônias de casamento, deixaram um saldo sangrento de mais de 360 mortos.
Em entrevista à repórter Silvana Pires, a professora de História da Filosofia Política e Retórica da Escola de Comunicações e Artes USP Marilia Fiorillo enumera alguns tópicos que podem explicar o porquê da Turquia ter se transformado em alvo de terroristas. Um deles é o fato de o governo turco não ser democrático há bastante tempo, tanto que o país atualmente encontra-se em estado de emergência.
Além disso, a Turquia – o país do mundo que mais abriga refugiados do genocídio sírio – sempre esteve ao lado do Ocidente. Atualmente, no entanto, está havendo uma reviravolta na geopolítica internacional, “pois o país passou a se aliar com a Rússia de Vladimir Putin, cujo expansionismo avança aceleradamente”.
Internamente, a Turquia, além de enfrentar uma oposição que clama por mais democracia, depara-se com a questão curda, que já dura décadas. Os curdos desejam autonomia, principal reivindicação do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), cuja aliança com as forças do Ocidente – as quais apoiavam os rebeldes sírios – foi vital para derrotar o EI na Síria. Há 15 milhões de curdos na Turquia e eles também não convivem pacificamente entre si.
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Em meio a tudo isso, o Estado Islâmico tem reivindicado atentados – como o da passagem de ano, numa boate em Istambul, cujo saldo foi de 39 mortos – que nem sempre são de sua autoria. Oportunista, não seria a primeira vez que o EI reivindica como seus atentados cometidos pelos chamados lobos solitários.
“A Turquia, definitivamente, mergulhou no que se pode chamar de nova desordem mundial”, afirma a professora Marilia. “Tempos atrás falava-se, equivocadamente, de choque de civilizações, como se o grande problema fosse um choque entre o Ocidente e o Oriente.” A ironia, de acordo com ela, é que “deixou de ser privilégio das dinastias do Golfo Pérsico possuírem governantes com pouca habilidade política, mas cuja principal característica era serem bilionários e nomearem a família para cuidar dos negócios públicos. Esse traço oriental foi exportado para a sede do império americano”.