Pela primeira vez em muito tempo, o Brasil foi capa por dois dias em um dos maiores jornais de negócios e economia, o Financial Times. O alarde foi causado após a decisão do presidente Jair Bolsonaro de demitir o então chefe da Petrobras, Roberto da Cunha Castello Branco, e substituí-lo pelo general Joaquim Silva e Luna. A notícia repercutiu negativamente entre jornais, economistas, políticos e acionistas, que criticam os motivos da troca.
Após sucessivos aumentos no preço dos combustíveis, especialmente o último de 10% na gasolina e 15% no diesel, considerado “fora da curva” pelo presidente Bolsonaro, foi anunciado o interesse na demissão de Castello Branco. Se a substituição for aprovada pelo Conselho de Administração, composto em grande parte de aliados de Bolsonaro, Silva e Luna será o primeiro militar a ocupar a presidência da Petrobras desde 1989.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Paulo Feldmann, economista e professor da Faculdade de Economia da USP, afirma que a decisão de Bolsonaro “é uma coisa lamentável e, além de tudo, denota um aspecto muito ruim que está acontecendo no Brasil, que é a intervenção militar”. Feldmann defende o bom desempenho de Castello Branco na recuperação da Petrobras e classifica sua gestão como muito séria, técnica e científica, não existindo então um motivo plausível para a sua demissão.
A posição de Bolsonaro agrada a ala dos caminhoneiros, que vem protestando contra os aumentos nos combustíveis. Feldmann defende o modelo ferroviário, mais eficiente e barato, e afirma que o Brasil é um dos poucos países que dependem do transporte rodoviário. Ele alerta para o fato de que toda movimentação na presidência da Petrobras desvalorizou a empresa – “além de uma queda nas outras estatais brasileiras que têm ações negociadas em bolsas no exterior, porque todos agora estão com medo de intervenções”-, prevendo um 2021 muito difícil para os investimentos brasileiros.
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