Sanções não terão eficácia para conter a investida da Rússia contra a Ucrânia

A opinião é do professor Alberto do Amaral, segundo o qual as previsões são sombrias face às ambições geopolíticas russas e ao sonho de Vladimir Putin de recuperar a glória do império russo

 23/02/2022 - Publicado há 2 anos
Os posicionamentos de Putin geraram sanções para a Rússia, mas estas não devem ser muito efetivas – Foto: Kremlin via Fotos Públicas
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A tensão entre Rússia e Ucrânia se intensificou após Vladimir Putin reconhecer as regiões separatistas da Ucrânia, Donetsk e Lugansk, como independentes. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Alberto do Amaral Junior, do Departamento de Direito Internacional da FDUSP e colunista da Rádio USP, explica o impacto das últimas declarações do governo russo.

Os posicionamentos de Putin geraram sanções para a Rússia, mas não devem ser muito efetivas, diz o professor: “Muito provavelmente as sanções não terão nenhuma eficácia para conter a investida do governo russo contra a Ucrânia, especialmente contra o leste daquele país. As sanções têm sido utilizadas no plano internacional, sobretudo na segunda metade do século 20, com êxito extremamente escasso, ou seja, não têm havido sucesso, eficácia e êxito na aplicação dessas sanções. Veja, por exemplo, o que ocorre com o governo cubano, que é objeto de sanções há mais de 60 anos, com a Coreia do Norte, com o caso do Iraque, e mesmo recentemente, com o Irã. Nenhum desses países alterou seus planos em virtude da aplicação de sanções econômicas. As sanções não tiveram efeito nesses países e provavelmente não terão efeito em relação à Rússia”.

Alberto do Amaral Junior – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

De acordo com Amaral Junior, a crise da Ucrânia pode ser entendida a partir de alguns elementos fundamentais, e esses elementos explicam a ação do governo russo neste momento: “O primeiro elemento foi a atitude como o Ocidente reagiu às legítimas reivindicações de segurança por parte da Rússia. Os Estados Unidos e os países ocidentais se recusaram a discutir as reivindicações de segurança do governo russo, sobretudo no que diz respeito à expansão da Otan para a Europa Oriental. A atitude do governo americano foi simplesmente uma atitude de condenar qualquer atitude em relação à Ucrânia e uma atitude de proclamar uma iminência da invasão.”

Ambições geopolíticas

Outros fatores mencionados pelo professor são a participação da Otan nos últimos anos, assim como as ambições geopolíticas russas aliadas ao sonho de Putin, baseado em recuperar a glória do império russo. Além desses, “o último elemento sem dúvidas é a invasão, a Ucrânia tem uma ligação umbilical com a Rússia. A Ucrânia é o berço do Império Russo e Ucrânia unida à Rússia dá à Rússia uma sensação de império e não apenas de um país. Então, a Ucrânia simbolicamente tem uma  importância fundamental no imaginário russo”, afirma o professor.

Os últimos acontecimentos preocupam Amaral Junior: “Não há indicações seguras de que as forças russas permanecerão nas províncias separatistas de Donetsk e Lugansk. Há fronteiras fluidas diluídas e imaginárias entre essas duas províncias separatistas e o restante da Ucrânia, o que significa que a probabilidade do conflito com o exército ucraniano é uma probabilidade iminente e tudo leva a crer que a ocupação não se restringirá a Donetsk e Lugansk pelas declarações do presidente Putin. As previsões são sombrias a meu ver.”

Em meio aos conflitos, existe a questão sobre a participação brasileira. “A posição do Brasil, por intermédio do Brics, deveria ser uma posição de vocalizar os seus interesses pela paz. O Brasil tem credenciais para postular a paz, o presidente brasileiro deveria ter ido à Moscou, Kiev, Londres, Paris e Washington. É claro que o Brasil não é um ator fundamental nessas negociações, mas poderia expressar a sua preocupação com a paz e com a existência de um conflito armado”, atesta o professor.


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