Raios podem danificar redes elétricas residenciais mesmo sem atingir a casa

Pesquisadores explicam os cuidados que se deve tomar com equipamentos elétricos e com a vida humana nos casos de tempestade de raios

 25/04/2024 - Publicado há 6 meses
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As nuvens têm cargas elétrica e, uma vez que essas cargas elétricas se separam, geram um campo elétrico – Foto: Freepik
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No dia 1º de junho de 2011, um raio atingiu a escola primária Runyanya, a 225 quilômetros de Kampala, capital da Uganda, país da África Central. Devastadora, a descarga elétrica matou 18 crianças e um professor de imediato. Uma criança morreu em decorrência de queimaduras no dia seguinte e outras 50 ficaram feridas. O acidente ficou conhecido como a maior quantidade de crianças mortas em decorrência de uma única descarga atmosférica, conta o professor Hélio Eiji Sueta da Escola Politécnica da USP. Desde então, o dia 28 de junho é lembrado como Dia Internacional de Segurança contra Raios.

Que medidas de segurança podem ser tomadas para evitar que tragédias como a de Runyanya se repitam? Como podemos nos proteger de descargas elétricas fortíssimas, que parecem cair de maneira aleatória? O professor Carlos Augusto Morales Rodriguez é meteorólogo pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. Ele conta que os relâmpagos são uma forma de a atmosfera liberar a energia que contém: “As nuvens têm cargas elétricas e, uma vez que essas cargas elétricas se separam, geram um campo elétrico. Quando a gente olha para a água, eletricamente, ela tem cargas positivas e negativas, só que ela está neutra, porque as cargas negativas e positivas estão juntas”, explica Morales.

Carlos Augusto Morales Rodriguez – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Quando olhamos para nuvens, o que vemos na verdade são incontáveis gotículas de água em movimento caótico, se colidindo e aumentando de tamanho. Quando chega em certo ponto, a gota cai em forma de chuva ou granizo, se as condições meteorológicas forem propícias. Nessas colisões ocorrem transferência de carga. “E toda vez que você tem uma colisão, seja água ou gelo, você tem transferência de carga. Uma parte externa da gota d’água fica carregada com uma carga e a parte externa da que rebater fica carregada com outra polaridade. São criados dois centros de carga e, uma vez que o campo elétrico é suficientemente alto para romper a resistência do ar, ocorre o raio”, detalha o professor. 

Campeão mundial

Morales é colaborador do sistema Starnet, um conjunto de 12 antenas localizadas na América Latina, África e Estados Unidos, que são utilizadas para monitorar tempestades em toda a América Latina com o uso de ondas de rádio. 

A localização das tempestades pode ser conferidas em tempo real através do link https://raiosonline.iag.usp.br/index.php

O Brasil é um dos maiores países na região tropical, por isso tem atividade eletrônica desde Roraima até o Rio Grande do Sul – Foto: Raios Online

 

O pesquisador conta que o Brasil é campeão mundial em número de raios, com cerca de 78 mil descargas elétricas por ano: “Isso se deve basicamente a sua extensão territorial, que está dentro dos trópicos. Os locais onde caem mais raios são na África e na Venezuela, mas são vários países menores. O Brasil é um dos maiores países na região tropical, por isso que você tem atividade eletrônica desde Roraima até o Rio Grande do Sul e, como é quente, são produzidos muitos raios”, completa o professor e pesquisador.

Os riscos dos raios

As descargas atmosféricas são de altíssima intensidade: segundo a Sociedade Brasileira de Física, um raio pode chegar de 100 milhões a 1 bilhão de volts. Com tamanha força, as descargas eletromagnéticas trazem riscos aos seres humanos e equipamentos elétricos. 

O professor Hélio Eiji Sueta, além da Poli, é membro da comissão de proteção contra raios da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ele conta que um raio não precisa cair exatamente em cima da residência para causar danos, basta que caia próximo:

Hélio Eiji Sueta – Foto: ResearchGate

“O raio gera um campo eletromagnético que acopla com tudo quanto é fio e tudo quanto é parte metálica, e isso gera surtos que vão queimar os equipamentos. Também tem aquele raio que cai direto ou próximo da linha de telefone ou de energia e leva esse surto para dentro da casa”.

Caso a instalação elétrica não tenha sido feita seguindo os parâmetros técnicos de segurança, o relâmpago pode causar um centelhamento na rede elétrica da casa, iniciando um incêndio. Justamente pela descarga se acoplar tão facilmente em estruturas metálicas, não é recomendado utilizar aparelhos eletroeletrônicos na tomada durante uma tempestade.

“Só ano passado, a gente teve conhecimento de pelo menos cinco casos de pessoas que morreram utilizando o celular na tomada, por causa do raio. Tem também os casos de pessoas abrindo uma geladeira, por exemplo,” conta Sueta. Portanto, ao perceber uma tempestade de raios se aproximando, vale o alerta de tirar os equipamentos da tomada; contudo, deve-se desligar os equipamentos bem antes da tempestade começar. “A gente teve conhecimento de pessoas tirando, por exemplo, o plug da TV em períodos de chuva para proteger o equipamento e justamente nesse momento caiu um raio. Não precisou nem cair na casa onde ele está, pode ter caído na linha e ele sofreu um choque”, finaliza Hélio Eiji Sueta. 

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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