Podemos ter uma universidade brasileira entre as 50 melhores do mundo?

Por Carlos Gilberto Carlotti Junior, professor titular da Faculdade de Medicina e reitor da USP

 Publicado: 29/10/2024 às 11:14     Atualizado: 01/11/2024 às 11:55
Carlos Gilberto Carlotti Junior – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Rankings internacionais avaliam as principais universidades mundiais, que passam a ser vistas como centros de excelência, facilitando a relação com outras universidades e criando oportunidades para as comunidades acadêmicas. A USP tem se destacado como a principal universidade ibero-americana em aspectos como relevância da produção científica, sustentabilidade e reputação acadêmica.

No ranking Times Higher Education, a USP está entre as 200 mais importantes do mundo, lugar que não atingia desde 2013, e no QS aparece, desde 2023, entre as 100 melhores, posição nunca alcançada nessa avaliação. No ranking UI GreenMetric, a USP é a 8ª mais sustentável do mundo. Importante destacar também o 1º lugar conquistado pela USP, como a melhor universidade do Brasil, no Ranking Universitário Folha.

É incomum para uma universidade como a USP, no que tange a seu tamanho e ao grande número de alunos, alcançar posições tão elevadas quando comparada às melhores do mundo. A USP tem sido exceção.

Universidades norte-americanas e inglesas têm se mantido estáveis nas classificações, ao passo que países como Coreia do Sul, China, Alemanha e França estão em ascensão, graças às robustas políticas de incentivo à educação, desde o ensino básico, e aos investimentos para fomentar a qualidade no ensino superior, com programas de excelência, aumentando a competitividade internacional.

No Brasil, as instituições mais bem classificadas são públicas e, para galgar posições mais destacadas, faz-se necessária mudança na governança das universidades.

As universidades poderiam, por exemplo, ter liberdade para convidar professores do exterior para atividades acadêmicas por período determinado. Além disso, os concursos para a contratação de professores são burocráticos, com participação predominante de avaliadores externos e regras que impedem maior contato com os candidatos. Em instituições do exterior é comum a formação de comitês de busca, com convites para que os candidatos participem de atividades acadêmicas e, só após essas avaliações, possam ser contratados.

A demora nos trâmites para a aquisição de material e equipamentos para pesquisa dificulta o desenvolvimento da produção científica. É importante a desburocratização desses processos, bem como das licitações para a construção de infraestrutura física para o ensino e para a pesquisa.

Por outro lado, a aprovação do Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, que facilita o contato da academia com o setor produtivo, comprova que mudanças são possíveis de serem implementadas, aprimorando a atividade acadêmica.

A posição da USP nos rankings a consolida como uma universidade de classe mundial. A autonomia acadêmica e financeira, conquistada em 1989, tem sido fundamental, pois garante o planejamento dos investimentos no ensino, na pesquisa, na cultura, na extensão, na inovação, na internacionalização e na transferência do conhecimento para a sociedade.

Podemos, sim, ter universidades brasileiras entre as 50 melhores do mundo. Recursos humanos qualificados estão presentes, mas é preciso termos condições de igualdade para competir com as congêneres internacionais.

(Texto publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo, em 27/1/24)


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.