O arquiteto que brilhou como cartunista

Paulo José Hespanha Caruso, conhecido como Paulo Caruso, falecido aos 73 anos, desenhou e satirizou as contradições da vida brasileira

 06/03/2023 - Publicado há 1 ano
Paulo Caruso – Foto: Comunique-se S/A via Wikimedia Commons / CC 3.0

 

Uma escola superior, ao invés de formar um profissional da área, às vezes serve de impulso para que o aluno desabroche em outra atividade, na qual sua criatividade ganha impulso e reconhecimento.

Foi o caso do cartunista Paulo Caruso, formado, juntamente com seu irmão gêmeo também famoso, Chico Caruso, que se diplomou – na verdade se diplomaram –  pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, nos politicamente autoritários e repressivos anos de 1970. Eram tempos agitados.

Paulo Caruso faleceu no último sábado, aos 73 anos, vítima de um câncer no cólon, depois de uma consagrada carreira como cartunista em veículos importantes de imprensa nacional, com variantes de sucesso na área de humor musical e stand offs satíricos, algumas delas em parceria com o irmão gêmeo, Chico, com o qual dividia o talento nascido na infância, sob a batuta do avô pintor amador.

“Com suas caricaturas e charges, Caruso faz parte da história política e social do Brasil”, diz nota da Fundação Padre Anchieta, responsável pelo longevo programa Roda Viva, de entrevistas, em que produzia, desde 1987, ano de início da atração, desenhos dos entrevistados durante a apresentação. De fato, era um dos destaques do programa no qual, ao final da transmissão, muitas vezes os entrevistados faziam questão de ficar com os desenhos como lembrança. Certamente foi o espaço jornalístico no qual teve o maior reconhecimento em nível nacional.

Charge de Paulo Caruso do deputado Ulysses Guimarães, durante o programa Roda Viva – Foto: Silvio Tanaka/Flickr via Wikimidia Commons CC 2.0

 

As caricaturas e charges de Paulo Caruso também se consagraram em inúmeros veículos impressos do País, sempre revelando o que poderia estar oculto nos fatos que retratavam especialmente os anos da ditadura, duradoura até 1985. Começou no Diário Popular, de São Paulo, passou pelo O Estado de S. Paulo, pela revista IstoÉ, Jornal do Brasil, Época, Folha de S. Paulo e Veja, colaborou na imprensa alternativa via o celebrado O Pasquim e o semanário Movimento. Publicou livros aglutinando suas produções na imprensa. E foi premiado, como desenhista, pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA).

Foi estrela de uma constelação de caricaturistas que marcou e marca, em tempos de fechamento e aberturas, o humor brasileiro, como o irmão gêmeo Chico, Jaguar, Angeli, Laerte, Glauco, Millôr Fernandes, Ziraldo. “O que ele fazia no Roda Viva eu jamais conseguiria fazer, naquela velocidade”, disse Chico Caruso, a O Globo. Haveria elogio melhor do que esse?


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