Nova regra nas embalagens ajuda o consumidor a optar por alimentos mais saudáveis

Os novos rótulos têm a obrigação de destacar excessos de nutrientes prejudiciais à saúde. Ana Bortoletto analisa os efeitos das informações sobre o comportamento do consumidor

 Publicado: 06/05/2024
A grande inovação das mudanças é a lupa, que é o mecanismo que traz para frente da embalagem a informação sobre o alto conteúdo de nutrientes que podem fazer mal à saúde – Foto: Arquivo pessoal/Neha Khandpur
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O prazo para adequar as embalagens de produtos alimentícios com dados sobre alto teor de sal, gordura saturada e açúcar nos rótulos terminou. A norma passou a valer ano passado, mas o prazo para mudar as embalagens novas tinha sido estendido e o estoque produzido antes da regra ainda poderá ser vendido até outubro. Ana Paula Bortoletto, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP, explica as questões que envolvem a mudança.

Ana Paula Bortoletto Martins – Foto: FSP

A professora conta que o Brasil já tinha uma norma sobre rotulagem nutricional de alimentos, mas que já estava defasada. “No começo da década de 2000 ela já não era adequada. Ela previa que poucas informações deveriam estar disponíveis nos rótulos e sem uma regra específica do quão legível as informações deveriam estar”, afirma. As informações nutricionais mais importantes eram alocadas em espaços pequenos da embalagem, geralmente com letras menores. “As pessoas não entendiam essa informação e enquanto isso a informação no formato de publicidade, o destaque das características positivas dos alimentos ficam na parte da frente”, acrescenta.

A docente indica que, com a nova regra, a tabela de nutrientes fica mais acessível na embalagem e com informações mais completas. A tabela já existia antes, mas agora ela é obrigatoriamente apresentada com o fundo branco e letras pretas, além de ter um tamanho mínimo para a fonte das letras, para que tenha mais visibilidade. Ela indica que outra importante mudança na tabela é a adição da informação sobre o açúcar, que não existia antes. Ela também traz a informação em gramas e não só por porção, o que faz com que as pessoas possam comparar qualquer tipo de produto e qualquer categoria sem precisar fazer cálculos para a comparação.

Para a pesquisadora, a grande inovação das mudanças é a lupa, que é o mecanismo que traz para a frente da embalagem a informação sobre o alto conteúdo de nutrientes que podem fazer mal à saúde. Foram escolhidos pela Anvisa a gordura saturada e o açúcar adicionado.

Informação e mudanças de comportamento

Segundo a especialista, quanto maior destaque se dá às informações que são relevantes para a saúde, mais as pessoas acabam sendo acostumadas a usar essa informação em consideração na escolha dos alimentos. “Estamos nos inspirando na experiência do tabaco. A partir do destaque da informação ostensiva sobre os perigos do cigarro, houve uma redução considerável no tabagismo brasileiro.”

Ana segue com a explicação de que gerar uma mudança de interesses é um processo complexo. “Isso exige outras políticas que são complementares a essa maior consciência sobre alimentação. Por isso, entendemos que o rótulo é uma das ações, por trazer essa informação em maior destaque. Mas em comparação a outros países, como México ou Chile, o destaque ainda não é o adequado. O destaque nos outros países é maior e o símbolo tem mais nutrientes monitorados.”

A docente fala que há um grande desafio para a questão no Brasil. “Precisamos de ter ações mais coordenadas. Ações vinculadas ao currículo escolar, tendo como público-alvo as crianças, que assimilam essas informações mais eficientemente. Incluir essa atenção nas informações e trazer essa formação sobre alimentação saudável e rotulagem já desde cedo, uma ação para disseminação das informações nos materiais didáticos disponíveis nas escolas.”

Ana acredita que a infraestrutura estatal de saúde e educação deve se mobilizar para alcançar mais pessoas, com propagandas em UBS e uma atenção maior à importância da alimentação mais saudável. “Já vimos no Chile, por exemplo, que foram as crianças que começaram a mudar o comportamento mais rápido em relação à informação da rotulagem. Acho que é um dos caminhos a se utilizar. Devemos continuar com os estudos para avaliar o projeto e seguir aprimorando”, finaliza.


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