Entre os efeitos da pandemia, pode-se destacar também o aumento da desigualdade social, devido à exclusão digital. Neste período, as aulas, trabalho, entretenimento estão acontecendo de maneira remota, mas nem todos possuem a estrutura necessária para adentrar esse espaço virtual. O professor Ivan Claudio Siqueira, do Departamento de Informação e Cultura da Escola de Comunicações e Artes da USP, comenta o problema em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.
Aprendizado dos estudantes
“O que tínhamos antes da pandemia já era uma situação escabrosa, que deveria nos deixar perplexos, na educação brasileira”, afirma Siqueira. Há, no Brasil, um exame para verificar o aprendizado dos estudantes. Analisando os dados coletados no último exame sobre um recorte de renda, pouquíssimos dos alunos mais pobres conseguiam nomear frutos após os primeiros três anos do ensino fundamental.
A pandemia impôs mais uma lacuna aos estudantes de baixa renda, já que agora, para acompanhar as aulas, são necessários equipamentos adequados e acesso à internet. Essa nova realidade aprofundou, então, a desigualdade que já existia das oportunidades de aprendizagem, segundo o professor.
Para Ivan Siqueira, “nós não temos, no Brasil, projetos que incluam todos os segmentos populacionais naquilo que é o básico. A educação é um elemento fundante para a própria sobrevivência, para as oportunidades de trabalho, para seu entendimento enquanto pessoa e para fruição e exercício da cidadania, como está na nossa Constituição”.
O professor explica que, ainda que muitos alunos tenham um celular, eles não têm um plano de dados adequado para acompanhar as aulas e realizar as tarefas. “Normalmente, esses celulares são apenas para acesso às redes sociais, para passar tempo. Um equipamento, como esse, não dá conta de atividades educacionais”, diz. Ele ainda alerta quanto à necessidade de saber o que fazer com os recursos. Nem mesmo os professores tiveram treinamentos para dar as aulas remotas.
Para além do acesso à informação, é importante que haja também um trabalho para discernimento e interpretação daquilo que se encontra na internet. Tudo isso pensado para as diferentes faixa etárias. “Há um conjunto de elementos também que não depende do aparelho, da conexão, depende do conhecimento”, acrescenta Siqueira.
A consciência quanto à qualidade da informação, propagação de notícias falsas, deve ser formada desde cedo. O problema, assim, atinge diversas partes da formação de uma pessoa. “Vivemos hoje em um mundo onde a informação não é mais escassa, ela é encontrada em excesso. O que você precisa saber é como você seleciona e onde você busca informação”, afirma o professor. A inclusão digital deve se tornar um direito do cidadão.
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