É fundamental vacinar crianças e adolescentes para evitar a propagação do coronavírus

Paulo Lotufo e Gonzalo Vecina comentam decisão da Anvisa que autoriza aplicação dos imunizantes da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos

 17/12/2021 - Publicado há 3 anos
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Arte por Ana Júlia Maciel sobre ícones de saúde
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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação de vacinas da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Em um comunicado transmitido ao público, os representantes do órgão apresentaram as análises e recomendações para liberação do imunizante contra a covid-19 nessa faixa etária.

A decisão foi tomada após uma reunião com sociedades médicas e cerca de um mês depois da submissão do pedido pela farmacêutica. A agência solicitou dados e esclarecimentos complementares antes de autorizar a ampliação de uso da vacina para a população pediátrica. 

Essa é a primeira vacina permitida para esse grupo no Brasil. O Instituto Butantan também submeteu um pedido para a autorização de uso da CoronaVac em crianças e adolescentes de 3 a 17 anos e aguarda a conclusão da análise.

Importância

Paulo Andrade Lotufo – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Vacinar crianças e adolescentes é importante para proteger essa população do vírus. “Quando você vê todas as doenças que afetam as crianças, a incidência da covid-19 é alta e tem uma mortalidade que não pode ser desprezada”, afirma Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina (FM) da USP.

“Só a covid-19 nessa população [crianças e adolescentes] em especial mata mais do que todas as doenças do calendário infantil somadas anualmente”, destacou Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), em sua fala durante o anúncio.

Gonzalo Vecina, professor da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, destaca também a importância para conter a transmissão do vírus. “Crianças são vetores do vírus na família e para outras pessoas que estão em casa”, diz. “Protegendo a criança, nós estaremos protegendo a sociedade”, acrescenta.

Segurança

Gonzalo Vecina Neto – Foto: FSP/USP

Segundo Vecina, pelo que se conhece da tecnologia utilizada nessas vacinas, não são esperados riscos de médio e longo prazo. Os riscos a curto prazo são conhecidos e raros. Apesar da possível relação entre a vacina e quadros de miocardite e pericardite, dados da vacinação com mais de 5 milhões de jovens na Europa indicam que nenhum caso dessas complicações foi registrado.

De qualquer forma, o professor orienta que os familiares estejam atentos a sintomas como dor no peito e no braço esquerdo. “Havendo esse tipo de problema, pode estar em curso um processo inflamatório, e aí tem que se instaurar o tratamento”, afirma. O uso de anti-inflamatórios é suficiente para que o quadro comece a regredir. “Os pais devem ser informados, mas isso não deve evitar a vacinação e a proteção do seu filho e das pessoas com as quais ele vive”, pondera.

No anúncio da autorização, os representantes da Anvisa destacaram gerenciamento de risco. Mesmo com todas as fases de testes concluídas, estudos e relatórios de monitoramento serão conduzidos a fim de garantir a plena segurança de quem receber os imunizantes.

Segundo Lotufo, esse acompanhamento faz parte das boas práticas médicas e científicas e demonstra o rigor técnico da agência. Diante das análises de benefício-risco, o professor ressalta que não há motivo para preocupação e incentiva que pais e mães levem seus filhos para tomar a vacina. 

“Não há nenhum tipo de contraindicação. Todos os fabricantes trabalharam muito bem nisso e as principais agências avaliadoras estão fazendo isso de uma forma muito criteriosa, tanto que já negaram [a autorização] em alguns casos. Então, os pais e mães têm que fazer essa ação que é vacinar seus filhos contra a covid.”

Adaptações e calendário

Na população pediátrica também serão aplicadas duas doses da Pfizer. Entretanto, a vacina é diferente da usada em adultos. Para adequar o imunizante a essa faixa etária, foram feitas mudanças na composição e concentração, além de uma redução do volume de cada dose.

“Você tem que avaliar vários compartimentos do organismo, onde ela fica e o tempo de ação”, comenta Lotufo. “Cada vacina tem sua especificidade, de acordo com a idade”, acrescenta o professor, ao explicar por que as modificações são necessárias. Nessa composição, a presença de anticorpos neutralizantes ocorre em intensidade semelhante à dos adultos, inclusive contra a variante delta. A eficácia estimada é de 90%.

O tema ainda gerou polêmica no governo. Enquanto diretores da Anvisa receberam ameaças de morte em meio às discussões sobre as vacinas para crianças, o presidente Jair Bolsonaro intimida técnicos do órgão e diz que vai divulgar o nome de quem aprovou a autorização. Ainda não há uma data para o início da vacinação. Esse cronograma depende do Ministério da Saúde. O acordo da pasta com a farmacêutica prevê a entrega das doses pediátricas.

“Espero que o governo seja capaz de colocar essas vacinas à disposição para que elas sejam utilizadas pelos nossos filhos”, afirma Vecina. “O fundamental, se a gente quer caminhar para o final dessa pandemia, é a vacinação”, conclui.


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