Desde o último sábado (7), o conflito entre Israel e o grupo islâmico radical Hamas está em curso e já contabiliza 900 mortes israelenses e 690 palestinas. Em contraofensiva violenta ao ataque do grupo extremista, as Forças Armadas israelenses atacaram cerca de 800 alvos na Faixa de Gaza. Diante dos contra-ataques, Hamas, por sua vez, ameaça matar reféns a cada bombardeio aéreo sem aviso prévio.
“A resposta de Israel não é uma surpresa”, afirma Kai Enno Lehmann, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, e ainda aponta três principais motivos para tal constatação: o histórico do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu; a coalizão de governo por ele liderada; e a pressão política doméstica após o maior ataque sofrido pelo país devido a uma falha de inteligência na segurança.
Assim, a resposta israelense vem no sentido de mostrar resultados rápidos, claros e decisivos para demonstrar competência. “Netanyahu vai continuar com essas ações por algum tempo. Se isso vai levar aos resultados desejados, eu não sei, mas ele tem poucas opções neste momento”, analisa Lehmann.
Próximas etapas
O governo de Israel declarou já ter retomado o controle das fronteiras da Faixa de Gaza após o ataque surpresa que desestabilizou o país. Com alvos determinados para os bombardeios, o professor leva a crer que uma incursão por terra se mostra como uma possibilidade para o futuro da guerra, não favorecendo em nada o resgate dos reféns israelenses. “No momento, parece-me que os reféns não são uma prioridade política para Netanyahu e as perspectivas são horríveis. Eu acredito que as chances dessas pessoas saírem vivas da situação em que se encontram são pequenas”, aponta Lehmann.
Em caso de uma invasão por terra, o conflito vai causar ainda mais vítimas, segundo o especialista, uma vez que a região da Faixa de Gaza possui uma população muito densa. No entanto, Lehmann destaca que, no momento, o líder israelense não deve considerar uma guerra até suas últimas consequências como um contraponto, na medida em que a gravidade do conflito deixa profundas marcas psicológicas no país e em seu governo.
Comunidade internacional
A influência e participação da chamada comunidade internacional no atual cenário de Israel e Hamas são consideradas mínimas, conforme o professor. Na prática, o que se observa trata-se apenas do posicionamento dos tradicionais aliados de Israel – Estados Unidos e Europa – em apoio ao direito de defesa do Estado após o ataque.
“A questão é quando a autodefesa se torna algo diferente, as fronteiras entre autodefesa e algo diferente são fluidas, não tão claramente definidas”, pontua Lehmann. Com uma possível intensificação do “direito de autodefesa” de Israel, o especialista considera, principalmente de vozes da Europa, eventuais pedidos de moderação e cuidado com civis na região da Faixa de Gaza.
Mesmo sendo difícil afirmar com absoluta certeza o envolvimento de outros países na parte de logística, preparação e execução da invasão do grupo Hamas, Kai Enno Lehmann e outros analistas têm apontado o apoio financeiro iraniano. “Foi um ataque tão sofisticado em termos logísticos que me parece improvável que tenha sido uma coisa somente do Hamas”, considera.
Contexto doméstico
Politicamente, o governo de Benjamin Netanyahu já sofreu uma grande derrota por ser o líder no poder durante o pior ataque ao país nos últimos anos. Dessa forma, na opinião do professor, há uma necessidade de uma forte reação por parte do primeiro-ministro a fim de sustentar sua posição.
A partir da clara falha de inteligência de segurança, o especialista prevê uma dura reação da oposição israelense acerca do esforço político de Netanyahu com a reforma do sistema de justiça, que desencadeou inúmeros protestos. “A oposição certamente vai acusar o líder de não prestar atenção no que estava acontecendo na Faixa de Gaza, porque estava muito preocupado com a reforma do sistema judiciário de Israel.”
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