É sabido que o consumo de álcool em excesso é prejudicial à saúde, mas, há pelo menos vinte anos, pesquisas vêm mostrando que o consumo em doses moderadas pode ter efeito cardioprotetor. O motivo pelo qual essa proteção acontece é o objeto de estudo do professor Júlio César Batista Ferreira, do Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.
O estudo da proteção ao coração através do consumo de pequenas doses de álcool vem a partir de uma demanda da sociedade, que tinha conhecimento que o consumo poderia trazer benefícios, contudo, o porquê desse acontecimento continuava nebuloso, como conta Ferreira.
Através da ingestão de doses mínimas que poderiam induzir à proteção, utilizando como base a quantidade indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foram analisados os comportamentos de organismos de animais. Na sequência da ingestão, foi induzido o ataque cardíaco, assim como acontece nos humanos, concluindo que, postas essas condições, o dano era menor.
A proteção, entretanto, não advém do álcool em si, mas de uma classe de moléculas que faz com que, ao ser consumido, seja rapidamente metabolizado – os acetaldeídos. Normalmente, esses aldeídos são metabolizados mais lentamente. Segundo o professor, o acúmulo dessas moléculas faz com que o coração seja protegido.
“As pequenas quantidades ingeridas acabam causando um estresse no organismo. O organismo cria uma memória contra esse estresse, e quando vêm o estresse maior, já sabemos como lidar,” explica.
A pesquisa ainda alerta que a quantidade de álcool ingerido também é um ponto relevante. “Estamos em uma situação que o álcool protege, mas também pode agravar o dano, dependendo de cada indivíduo.” Em grandes doses, o estresse enfrentado pelo organismo é maior que o necessário, fazendo com que não sirva apenas como uma “memória”, mas que promova um colapso.
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