Atividades fora da rotina podem desregular o ritmo circadiano

Professor José Donato Júnior diz que o ritmo circadiano é importante porque regula o funcionamento das células, o metabolismo e até o nosso sono e concentração

 28/06/2023 - Publicado há 10 meses
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A duração da luminosidade influencia no centro regulador do ritmo circadiano e ajuda também a ajustar o organismo – Foto: Freepik
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O conjunto de atividades biológicas que se repetem em cerca de 24 horas é chamado de ritmo circadiano. Ele é importante porque regula o funcionamento das células, o metabolismo e até o nosso sono e concentração. Mas como ele é controlado? Os núcleos supraquiasmáticos, que ficam na região anterior do hipotálamo, são responsáveis por receber a informação do grau de luminosidade, enviada pela retina, e, assim, moldar o ritmo circadiano. “Ele ajusta a atividade das nossas células para que elas saibam os momentos apropriados de ter mais atividade ou estar em repouso”, explica o professor José Donato Júnior do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

Porém, embora seja muito influenciado pela luz, estudos comprovaram que sua duração se mantém em torno de 24 horas, mesmo na ausência completa da luz solar, que “mede” o dia geográfico e a noção de tempo. Estudos, como o do geólogo Michel Siffre, foram feitos em cavernas, longe da luz externa e da identificação da passagem dos dias, e mostraram que a média do ciclo se mantinha.

Livre-arbítrio

A duração do ritmo circadiano se mantém independentemente das condições, mas nós temos certo controle sobre as atividades que ocorrem durante esse tempo. “Nós temos a capacidade de ignorar um pouco esse ajuste, porque você vai numa festa ou você vai trabalhar à noite, embora seu ritmo fale  ‘olha, este é o momento de repouso, de você dormir’, você tem a necessidade de fazer outra tarefa. Voluntariamente, a gente pode ignorar essa informação, só que a consequência disso é que as nossas células não vão estar trabalhando na sua condição ideal”, comenta Donato.

José Donato Júnior – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Esse controle, por um lado, parece muito bom, já que, por exemplo, pode-se ficar acordado por mais tempo para completar alguma tarefa. Por outro lado, o professor coloca que, quando não se segue uma rotina, o corpo tende a entrar em dessincronia: “O que é crítico é a gente ser regular. Não adianta a pessoa acordar às 7 horas da manhã de segunda a sexta, e, no fim de semana, dormir 4 da manhã e acordar meio-dia. Isso causa uma dessincronia, você acaba nunca adaptando o organismo direito e ele não sabe o que é o ideal. Acho que é muito importante, independentemente dessas preferências individuais, que as pessoas consigam seguir um ritmo regular de sua atividade”.

Com a aparição dos celulares e de um contato excessivo com a luz artificial, ficou mais fácil desregular o ritmo circadiano. O especialista ainda acrescenta que o aumento da aparição de muitas doenças metabólicas pode estar relacionado com isso: “Os seres humanos herdaram todos esses mecanismos, só que a gente vive num momento em que você acende a luz, você olha para o celular: a quantidade de luz que a tela do celular, o computador ou a televisão emitem é enorme. Ela chega na nossa retina e, de certa maneira, atrapalha o centro dos ajustes. É interessante que existem algumas hipóteses que falam que essa exposição excessiva à luz afeta o ritmo circadiano e, por isso, tem a ver com a epidemia de doenças metabólicas como obesidade, diabete que vemos. A gente vê essa epidemia crescer justamente num momento em que as pessoas naturalmente têm muito mais acesso à luz no período noturno”. 

Outros animais

Não são apenas os seres humanos que são influenciados pelo ritmo circadiano: muitas espécies dependem dele — e, consequentemente, da regulação da luminosidade — para se reproduzirem. 

“Você pode considerar esse ritmo de 24 horas, mas você tem até uma sazonalidade baseada nas estações do ano: no inverno, você tem menor exposição à claridade e, no verão, os dias são mais longos. Essa duração da luminosidade também influencia no centro regulador do ritmo circadiano e ajuda também a gente a fazer ajustes no nosso organismo baseados no grau de luminosidade. Para alguns animais, como ovelhas, essa informação de luminosidade é tão importante que determina os momentos em que elas se reproduzem no ano”, explica Donato.


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