A proximidade geográfica dos países e universidades, por um lado, e a característica em comum de serem todas universidades públicas, por outro, trazem para esta rede uma organicidade interessante. São objetivos da rede, segundo descrição em seu próprio site institucional:
“Fortalecer vínculos entre discentes, servidores docentes e técnico-administrativos das universidades-membros, promovendo projetos conjuntos e potencializando as capacidades regionais do sistema de ensino superior. Também visa impulsionar a pesquisa científica e tecnológica em colaboração internacional, aprimorar a gestão universitária e incentivar a interação com a sociedade para divulgar avanços do conhecimento que promovam sua modernização.”
Para atingir esses objetivos, a Associação de Universidades do Grupo Montevideo (AUGM) se organiza em diferentes estruturas internas – comitês, comissões, núcleos e cátedras, cada uma com uma específica forma de funcionamento. Nem todas as universidades-membros participam de todas as estruturas, porém.
Entre as oportunidades que a AUGM oferece à comunidade acadêmica da USP, está a possibilidade de intercâmbio através do Programa Escala, que permite mobilidade de discentes, docentes e servidores técnico-administrativos entre as universidades da associação. Esse programa é um dos pilares da rede AUGM, que oferece vagas em quantidades recíprocas entre as universidades envolvidas (o que envolve a negociação bilateral quanto à quantidade de vagas a serem ofertadas).
Para o ano de 2025, as vagas disponíveis são distribuídas entre várias universidades: para os docentes, há vagas na Universidad Nacional de Cuyo, na Universidad Nacional de Córdoba, na Universidad Nacional de La Plata e na Universidad de Buenos Aires. Para os discentes de graduação, há vagas na Universidad Nacional de Cuyo, na Universidad Nacional del Noroeste de la Provincia de Buenos Aires e na Universidad Nacional de Asunción, esta última destinada a estudantes de Ciências Exatas e Naturais. Já para os discentes de pós-graduação, estão disponíveis vagas na Universidad Nacional de Córdoba e na Universidad Nacional de La Plata. O edital 2017/2024 para os pós-graduandos foi encerrado no dia 13 de novembro no sistema Mundus , sendo um exemplo do que vem sendo feito a partir dessa parceria.
Outra oportunidade viabilizada pela participação na AUGM é o programa CAPES-AUGM, que teve sua primeira edição neste 2024 e pretende se repetir por pelo menos mais três editais, que serão abertos em 2025, 2026 e 2027. Essa parceria visa selecionar projetos conjuntos de pesquisa para promover a formação de pessoas ligadas à comunidade universitária e, principalmente, o intercâmbio científico entre universidades-membros da AUGM (como requisito, deve haver uma universidade brasileira proponente envolvida). Os objetivos incluem a ampliação da cooperação entre programas de pós-graduação, a mobilidade de docentes e pesquisadores, e a criação de redes de pesquisa para publicações conjuntas, tão relevantes para os indicadores de internacionalização nos rankings internacionais.
As modalidades de apoio incluem missões de trabalho (com benefícios de deslocamento, seguro e diárias); bolsas de estudo, como doutorado sanduíche e pós-doutorado para brasileiros no exterior; além de mestrado e doutorado sanduíche e pós-doutorado para estrangeiros no Brasil. Os projetos formulados devem ter duração máxima de quatro anos, e as inscrições devem ser realizadas pelo proponente no sistema on-line da Capes, seguindo as normas e prazos do edital. O próximo edital deve sair em algum momento entre junho e julho de 2025, a exemplo do edital de 2024.
Essas duas iniciativas ilustram como a participação da USP na AUGM expande as oportunidades de cooperação acadêmica internacional na América Latina, proporcionando uma mobilidade internacional mais acessível porque, além dos custos significativamente menores, há proximidade cultural e geográfica na região. Essa proximidade possibilita relações acadêmicas mais horizontais e trocas enriquecedoras, livres das hierarquias frequentemente presentes em colaborações com universidades da Europa e dos Estados Unidos.
Além da AUGM, a USP também participa da Red Macro Universidades da América Latina e Caribe. Essa rede reúne 37 universidades públicas de 20 países, incluindo Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Desde sua fundação, em 2002, a rede defende princípios como a promoção da autonomia universitária, a garantia da liberdade acadêmica e a autogestão das instituições, além de demandar que os Estados forneçam financiamento adequado à educação superior, reconhecendo-a como um direito social.
A rede reúne as chamadas “macrouniversidades” da região. Elas são caracterizadas como “macros” porque se destacam por seu tamanho, complexidade e impacto acadêmico. Elas abrigam um grande número de estudantes, algumas ultrapassando 100 mil, o que representa uma significativa parte da matrícula em educação superior na região. Além de sua grande escala, essas universidades oferecem cursos e promovem pesquisas de ponta em uma ampla gama de áreas do conhecimento, incluindo ciências, tecnologia, ciências sociais, humanidades, artes e cultura. Assim como a USP, são referência em seus países e na região.
Por fim, além de descrever as redes de universidades latino-americanas das quais a USP faz parte, impossível não mencionar o Programa de Pós-Graduação Interunidades em Integração da América Latina – Prolam-USP, que é temático e, como o próprio nome diz, interunidades, reunindo docentes e pós-graduandos oriundos de diversas unidades da USP para estudar e produzir conhecimento sobre a realidade latino-americana nas áreas social, econômica, política, educacional e cultural. O programa se distingue por sua abordagem comparada, focando em temas comuns a diferentes países da América Latina e promovendo a formação de pesquisadores especialistas na região e em processos de integração regional.
No ano passado, entre os dias 4 e 11 de novembro de 2024, o Prolam-USP organizou o IV Simpósio Internacional Pensar e Repensar a América Latina e o II Congresso Internacional Pensamento e Pesquisa sobre a América Latina. O evento do Prolam-USP, já em sua quarta edição, vem contribuindo para potencializar a produção acadêmica acerca da América Latina, não só na USP ou nas universidades brasileiras, mas também entre pesquisadores vinculados a universidades estrangeiras, que vêm ao simpósio para debater as questões mais relevantes da região. Assim, o objetivo tem sido promover um encontro periódico para o intercâmbio intelectual sobre os desafios e as perspectivas da América Latina.
As iniciativas da Universidade de São Paulo em suas redes acadêmicas como a AUGM e a Red Macro, e também com o Prolam, reafirmam seu compromisso com a cooperação e o avanço do conhecimento sobre a América Latina. Essas ações não apenas contribuem para o fortalecimento da produção científica e acadêmica da região, mas também promovem o diálogo interdisciplinar e intercultural. A ampliação da cooperação internacional, do intercâmbio e das pesquisas acadêmicas com universidades latino-americanas têm o potencial de aumentar significativamente a internacionalização da USP, criando um processo de apoio mútuo e fortalecimento recíproco entre as instituições, com benefícios para o avanço do conhecimento e o desenvolvimento de soluções para os desafios regionais, que são mais parecidos do que costumamos reconhecer aqui no Brasil.
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