Especialistas levantam consenso de como lidar com câncer de cabeça e pescoço na América Latina

Gustavo Nader Marta comenta estudo que até então se baseava essencialmente na realidade de instituições da América do Norte e de países desenvolvidos da Europa

 Publicado: 02/07/2024
Tal qual grande parte das doenças, quanto mais cedo o câncer for identificado e tratado, melhor – Foto: Freepik
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Um estudo publicado na revista científica JCO Global Oncology com 41 especialistas da América Latina trouxe com ineditismo diretrizes adaptadas à realidade dos países da região em relação ao diagnóstico e tratamento do câncer de cabeça e pescoço. Até então os estudos de consenso se baseavam essencialmente na realidade de instituições da América do Norte e de países desenvolvidos da Europa.

O estudo

Gustavo Nader Marta, da Faculdade de Medicina da USP, médico radio-oncologista e presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia, comenta: “De fato, é um material inédito que eu não tenho dúvida que traz realmente uma luz de auxílio aos especialistas na abordagem desse tipo de tumor, que é uma questão de saúde pública”.

O trabalho consistiu em uma força-tarefa de especialistas, agrupando diferentes frentes de abordagem desse tipo de tumor com o intuito de trazer um guia de recomendação completo. O material aponta 48 recomendações formais nos diferentes capítulos relacionados, sendo dividido formalmente em 12 sessões. “Nós pudemos abordar baseados na melhor evidência disponível na literatura mundial e, claro, adaptados à realidade local da América Latina”, diz o médico. Aspectos relacionados à forma de diagnóstico, estadiamento, aspectos patológicos, cirúrgicos, clínicos e todos os demais processos foram levados em consideração.

Radioterapia

Gustavo Nader Marta – Foto: CV Lattes

Sendo a especialidade de Nader Marta, ele aprofunda melhor sua contribuição para o projeto: “É muito importante destacar que a radioterapia é [apenas] um dos pilares do tratamento oncológico”. Ela pode ser realizada de forma exclusiva em alguns casos de doença inicial, por exemplo, ou ser utilizada de forma combinada com o intuito curativo, normalmente em doença mais avançada. Também pode ser utilizada de forma complementar, por exemplo, na cirurgia para consolidação do tratamento. E, por fim, a radioterapia, numa doença mais avançada com metástase, pode ser utilizada com o intuito de controle e sintomas, como dor e sangramento.

“O que nós abordamos aqui neste material são as recomendações no que se refere às técnicas mais adequadas dos diferentes subtipos. Nós sabemos que a radioterapia deve respeitar uma janela temporal do diagnóstico”, ele explica. O estudo aponta especificamente as aplicações recomendadas em cada caso.

Tratamento e prevenção

Tal qual grande parte das doenças, quanto mais cedo o câncer for identificado e tratado, melhor. O atraso no início do tratamento “pode estar relacionado não só com o aumento de o risco do tumor voltar, mas como em sucesso de tratamento e uma chance maior inclusive dos pacientes morrerem por essa falta de assistência dentro da janela temporal adequada”, diz Nader Marta.

Como forma de prevenção, é recomendado evitar o consumo de álcool e especialmente o tabagismo. Alguns dados mostram que o fumo aumenta o risco de cinco até 25 vezes de câncer de cabeça e pescoço frente a uma população não tabagista. “A boa notícia aqui é que parar de fumar está associado em médio e longo prazo à redução do risco”, assegura ele.

Já sobre identificar os sintomas, o médico comenta alguns: massa na região do pescoço, alteração da voz, congestão nasal com ou sem sangramento, dificuldade e dor para engolir, lesões na boca ou na pele com ou sem úlcera, dor na boca, perda de dente ou de peso e também dor na região do ouvido. Essas, segundo ele, são as manifestações clínicas mais clássicas que servem de alerta para que as pessoas procurem uma avaliação especializada.


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