Condições políticas devem garantir governabilidade para a presidente eleita do México

Cientista político Rafael Villa comenta o cenário em que Claudia Sheinbaum assume o poder e quais as perspectivas da sua gestão

 05/06/2024 - Publicado há 2 meses
a futura presidente tem também o desafio de manter os programas sociais de López Obrador Foto: Secretaría de Cultura Ciudad de México/Wikimedia Commons/CC BY 2.0
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Primeira mulher a assumir a presidência do México, Claudia Sheinbaum é doutora em Engenharia de Energia, tendo participado do grupo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que ganhou o Prêmio Nobel de 2007 ao tratar sobre mudanças climáticas. Na política, começou como secretária do Meio Ambiente da Cidade do México em 2012, sob a gestão municipal de López Obrador, atual presidente. Ele também viria a fundar o partido Morena, posicionado à esquerda e do qual Claudia Sheinbaum faz parte.

Ela tem apoio do atual presidente, permitindo a permanência do partido Morena no poder. O professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Rafael Villa, comenta que “quanto às condições políticas para a governabilidade, ela não vai ter nenhum problema, porque vai ter maioria qualificada na Câmara dos Deputados”. Considerando também os partidos de coalizão PT (Partido do Trabalho) e PVEM (Partido Verde Ecologista do México), eles detêm mais de dois terços da Câmara e também do Senado. Das 32 governações mexicanas, 24 foram ocupadas por políticos do Morena.

Rafael Antonio Duarte Villa- Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

O professor afirma que Claudia Sheinbaum é mais à esquerda que Andrés Manuel López Obrador, o que pode também significar uma oportunidade. O atual presidente tem relações difíceis não só com setores da oposição, como também do próprio movimento; setores ambientalistas, feministas e de direitos humanos, por exemplo, têm críticas ao atual presidente. Já Claudia Sheinbaum, mulher e com conhecimento técnico sobre questões ambientais, pode dar um passo a mais nessa direção e tem a chance de angariar maior simpatia dentro da própria esquerda. Ela terá três anos para se provar, quando haverá novas eleições.

Próximos desafios

A propósito de continuidade, a futura presidente tem também o desafio de manter os programas sociais de López Obrador. Com esses programas representando um gasto de 1,5% do PIB nacional, Rafael Villa afirma que ela terá de encontrar um meio para assegurar sua sustentabilidade. Isso em meio a uma crise na petroleira estatal, a Pemex, que é deficitária e enfrenta problemas de corrupção.

Além disso, a violência é uma marca no país, tendo crescido nas últimas décadas. O professor diz que isso se deve principalmente aos cartéis de drogas e milícias, o que ocasionou no mínimo 30 mil homicídios por ano nos últimos anos, o terceiro mais alto do mundo. Por fim, do ponto de vista internacional, as eleições americanas no segundo semestre deste ano podem se provar um grande problema para Claudia. Donald Trump, candidato republicano, faz críticas ferrenhas ao México e não faz questão de manter relações amistosas com o país ao sul. Lembrando que o México é o maior exportador para o mercado americano, fazendo com que os EUA sejam vitais para a estabilidade econômica do México.


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