Araucária: da pré-história aos dias atuais

Paulo Eduardo de Oliveira comenta a interessante história da árvore e sua relação profunda com o Brasil

 Publicado: 11/07/2024
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Fonte: Reprodução – pedrobastosbr/Pixabay
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Destoando toda imponente com sua aparência peculiar, a araucária tem enorme importância cultural e biológica para o Brasil. Essa árvore ainda reserva curiosidades muito surpreendentes, como comenta o professor Paulo Eduardo de Oliveira, do Instituto de Geociências da USP. Tão antigo quanto os dinossauros, o grupo das araucárias foi um dos primeiros grupos de árvores a formar florestas na Terra. Oliveira explica: “Ele evoluiu no final do Jurássico, início do Cretáceo, e teve uma grande representação na Gondwana, que seria o setor sul do supercontinente de Pangeia”. Os períodos mencionados remontam a até 150 milhões de anos atrás.

Paulo Eduardo de Oliveira – Foto: Lattes

Por essa razão, as araucárias são apelidadas de “fóssil vivo”. Também por ser tão antiga, as araucárias têm representantes nos lugares mais inusitados atualmente. “Temos duas espécies da América do Sul e o resto da família se encontra na Austrália, Nova Zelândia e algumas ilhas próximas”, diz ele. Na época em que ela se formou, quando existia a Gondwana, nem havia separação entre os continentes.

Com tantos períodos de extinção em massa que o grupo das araucárias enfrentou, é tanto curioso quanto um mistério elas terem sobrevivido até hoje. Mas Oliveira traz uma hipótese: “Ela se adaptou rapidamente às mudanças e conseguiu se deslocar para áreas onde os seus requerimentos ecológicos ainda persistiram”. Ele se refere, por exemplo, a zonas mais frias, o que implica uma quantidade de sorte e de boa capacidade adaptativa da planta.

Relevância cultural

A árvore, que é símbolo do Paraná, curiosamente, chegou lá há pouco tempo. O professor afirma que 15 mil anos atrás quase não havia araucárias no Sul brasileiro, e que ela se concentrava nas regiões de altitude do Sudeste. Antes disso, a planta vagou por todo o Brasil: em períodos diferentes, foi possível comprovar a presença delas nas regiões que hoje são Amazônia, Cerrado e até Caatinga.

A história dela se entrelaça com o Brasil também em relação aos povos indígenas. Ele afirma que os povos nativos comiam o pinhão e usavam a madeira para construir suas casas. Inclusive, a eles se deve também a existência de algumas das florestas com araucárias: “Muitas áreas que a gente pensava que seriam áreas naturais, hoje estão sendo entendidas como plantadas pelos nossos antepassados”.

Ameaçada de extinção

Mas mesmo tendo uma história tão rica e uma relevância cultural tão grande, a araucária é considerada espécie ameaçada de extinção. A expansão de atividades econômicas e das cidades reduziu a floresta com araucária a meros 3% de sua área original – apenas 0,8% guardam condições e características originais.

Com o aquecimento global, é provável que o espaço ocupado pelas araucárias diminua ainda mais, se restringindo apenas a lugares mais ao Sul ou com altitude mais elevada. Um estudo da Global Change Biology prevê o fim da espécie até 2070 se nenhuma estratégia de conservação for posta em prática.

Por conta disso, a espécie é protegida, e vale ressaltar que derrubar uma araucária nativa é ilegal. Sua permanência é assegurada pela Resolução do Conama nº 278, de 24 de maio de 2001, que restringe o corte ou a exploração de espécies da flora ameaçadas de extinção.

*Sob supervisão de Marcia Avanza e Cinderela Caldeira


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