Pesquisadores comentam as implicações das mudanças na placa tectônica do Oceano Pacífico

Especialistas comentam as falhas geológicas na Placa Oceânica do Pacífico, descobertas por pesquisadores da Universidade de Toronto

 04/04/2024 - Publicado há 3 meses
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Os movimentos das placas tectônicas são responsáveis por gerar vulcões, terremotos e tsunamis     Kilauea Vulcão Havaí – Foto: Pixabay
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As placas tectônicas são a camada externa mais fina do planeta, flutuam sobre o magma, são divididas em crosta oceânica e continental e se encaixam como um quebra-cabeça. Elas estão relacionadas com a formação dos continentes e dos oceanos e seus movimentos são responsáveis por gerar vulcões, terremotos e tsunamis.

Pesquisadores da Universidade de Toronto descobriram falhas geológicas na Placa Oceânica do Pacífico, que, juntas, somam milhares de metros de profundidade e centenas de quilômetros de comprimento e estão fragmentando a placa — era de conhecimento que só havia uma abaixo do Pacífico. No entanto, é necessário que haja mais estudos para comprovar essa tese de que as placas são menos sólidas do que era entendido pela comunidade científica, uma vez que só era comprovada a presença dessas fissuras nas bordas das crostas, não no interior delas.

O que é essa falha e quais os riscos?

Marcelo Bianchi – Foto: Academia

As falhas encontradas pelos pesquisadores são aspectos nas rochas, geradas por esforços tectônicos, que se mostram como marcas, às vezes visíveis, e podem ser associadas à deformação ou movimentação de grandes blocos de terra. Nesse sentido, o professor Marcelo Bianchi, do Departamento de Geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, diz que o seu comprimento, profundidade e orientação podem dizer muito sobre o ambiente que ela se encontra e os tipos de forças que agem no terreno: “As descobertas apresentadas são parte da evolução do nosso planeta, que, diferente de outros corpos, tem uma tectônica de placas ativas e deverão contribuir para o aumento do conhecimento da dinâmica do assoalho oceânico”.

O artigo trata de uma zona relativamente pequena de intensa atividade sísmica — consumo, geração e choque de placas e vulcanismo —, na qual uma parte da placa está sendo consumida por um processo de subducção, no qual todo o platô está sendo arrastado para trás e os blocos “descem e sobem”. Dessa forma, uma série de falhamentos é gerada, há um aquecimento da placa que a torna mais fina e, por consequência, a velocidade de consumo dela é aumentada.

Felipe Toledo – Foto: Arquivo pessoal

Contudo, o professor do Instituto de Oceanografia (IO) da Universidade de São Paulo (USP), Felipe Toledo, ressalta: “Tudo isso está ocorrendo em termos de tempos geológicos, ou seja, se você pensar ‘o que vai acontecer em termos humanos?’ Nada. O que a gente pode sentir são tremores de terra ou alguma atividade vulcânica, mas grandes modificações ou deformações geológicas a gente não vai presenciar”. A partir disso, ele garante que, sabendo da configuração atual dos continentes e de seu histórico, é possível simular como será a nova configuração continental.

Ele ainda aborda que o maior risco causado pelo surgimento dessas falhas está ligado ao afinamento da crosta no ponto de tração, pois irá permitir que o magma suba ao assoalho oceânico — o “chão do oceano”, em torno de quatro mil metros abaixo da água — e, consequentemente, aumente a velocidade de separação que vai sofrer resistência nos extremos por zonas de consumo de placa.

Sob outro ponto de vista, Luigi Jovane, docente do IOUSP, comenta: “Essas áreas não tem população ou construções, então o risco é muito baixo. Mas o problema é que elas vão gerar, provavelmente, grandes tsunamis, que se propagam pelos oceanos inteiros, e com certeza pelo Pacífico, gerando ondas gigantescas”.

Mudanças no panorama da comunidade científica

Diante disso, Toledo afirma que essa nova descoberta irá proporcionar uma movimentação dos países com maiores condições de investir em pesquisas nessa escala de importância e proporção, afinal são áreas muito extensas. Na contramão, segundo ele, o Brasil está bem distante de ter financiamento para estudos desse porte.

Luigi Jovane – Foto: Currículo Lattes

Por outro lado, Jovane explica que já era de conhecimento da comunidade científica o fato de a crosta oceânica envelhecer e afundar — visto que se torna mais pesada — e, a partir do momento que ela submerge, a sua parte superficial é carregada. “Esse é um processo fundamentalmente novo na teoria das placas, que já se conhece faz vários anos. Agora, eles detectaram que essa força permite ter uma extensão nessa área de platô, que são mais frágeis, e que geram essas falhas”, desenvolve.

Além disso, Bianchi complementa que, atualmente, há uma distinção entre os processos que acontecem na litosfera oceânica e na continental e que essa recente descoberta, de deformação na crosta marítima longe das bordas, era de difícil explicação. Ele comenta: “A partir do momento que tivermos um modelo para tais deformações isso vai permitir que a gente compreenda melhor os processos como tectonismo, sismicidade e outras feições oceânicas ainda não totalmente explicadas pela tectônica de placas”.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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