Conflito entre Israel e Hamas faz da cobertura jornalística uma das mais complicadas da história

Carlos Lins da Silva enumera alguns dos motivos que tornam o trabalho jornalístico particularmente difícil naquela região

 27/11/2023 - Publicado há 12 meses

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“Esse é um dos conflitos mais complicados para a cobertura jornalística que tenta ser isenta da longa história, que começou no século 19, de se tentar fazer das guerras o objeto de uma reportagem que seja confiável.” A afirmação do professor Carlos Eduardo Lins da Silva tem a ver com as críticas e os questionamentos que a cobertura dos conflitos entre Israel e o grupo Hamas vêm suscitando. Um dos motivos que dificultam o trabalho jornalístico, segundo ele, é o fato de envolver uma confrontação que é secular entre judeus e palestinos. Outro motivo é o de que as pessoas tendem a preservar opiniões fortes “em relação a essa dicotomia que existe entre os dois povos”. Tudo isso agravado por ocorrer num momento em que a capacidade de gerar desinformação “atingiu níveis de sofisticação bastante altos. A desinformação digital faz com que cada vez mais seja difícil para os editores diferenciar, por exemplo, o que é uma imagem verdadeira ou uma imagem montada”.

A cobertura in loco também se torna difícil por acontecer na Faixa de Gaza, cujo território é equivalente ao de uma grande metrópole brasileira, o que acaba por dificultar as condições de trabalho dos profissionais de imprensa. Deve-se citar ainda as dissenções internas nas redações. “Ainda recentemente, mais de 700 jornalistas americanos fizeram um abaixo-assinado protestando contra a cobertura, porque acham que ela é muito enviesada a favor de Israel.” Os jornalistas dos grandes veículos da imprensa norte-americana dizem desconfiar da veracidade do que é publicado sobre o confronto pela mídia ocidental e veem uma tendência de favorecimento da causa israelense. Basicamente, eles cobram isenção, como é praxe de todo trabalho jornalístico que se pretende sério.

Lins da Silva lista um outro fator a tornar o cenário ainda mais sombrio: a criminalização dos jornalistas por parte do governo de Israel. Independentemente disso, desde o início dos combates entre Israel e o Hamas, 48 jornalistas já morreram, o maior número de mortes num só conflito neste século 21.


Horizontes do Jornalismo
A coluna Horizontes do Jornalismo, com o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção  da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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