Os calouros da USP e de outras universidades vão encontrar no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo os caminhos do pensamento grego na construção de suas cidades há mais de 2.500 anos. Uma lição interessante para alunos de todas as áreas, que abrem novos horizontes na compreensão da trajetória do homem e do planeta. A exposição Pólis – Viver na Cidade Grega Antiga propõe uma viagem para explorar as cidades de Olinto, Selinonte e Naxos, do século VIII antes de Cristo.
“Ao conhecer a vida nas antigas cidades gregas, chamadas de pólis, nós poderemos ter noções importantes do caminho percorrido pelas sociedades humanas em tempos passados”, observa Elaine Farias Veloso Hirata, professora e coordenadora da exposição. “O MAE apresenta a pólis como uma forma original do viver junto estabelecido pelos helenos em contato com outras sociedades, em muitos lugares do Mediterrâneo. Buscamos destacar, a partir de estudos sobre o morar entre os gregos, a variabilidade, a complexidade e o dinamismo que este mundo grego demonstrou nos séculos de sua existência.”
Ao entrar no espaço, bem no centro da sala, está a primeira vitrine. Uma ânfora original recepciona os visitantes. E os transporta ao século VI a.C., na região da Ática. “As ânforas poderiam ser com ou sem decoração, geralmente eram usadas para transportar e servir bebidas”, conta Maurício André da Silva, arqueólogo, historiador e responsável pelo setor educativo do MAE. “A decoração das ânforas, em geral, retratava cenas variadas de atividades cotidianas, imagens de deuses e episódios das histórias, o que caracteriza seu uso em festas e rituais. A produção desse tipo de cerâmica ornamentada por figuras negras e vermelhas é uma criação importante da arte grega.”
Interessante é que a peça foi cuidadosamente reproduzida no mesmo tamanho e com os mesmos detalhes. “Há desenhos que circundam a ânfora mostrando folhas de hera estilizadas, formas geométricas e elementos de guerra”, explica o educador. “Essa peça pode ser tocada e foi confeccionada em resina para maior durabilidade e especialmente para garantir a acessibilidade do público com deficiência.”
Roteiro para a viagem
Mas esse é apenas o começo do roteiro montado pelos educadores. Através de cartazes, desenhos, maquetes, vídeos, jogos, os viajantes têm um percurso didático que possibilita a comparação das cidades gregas antigas com a São Paulo atual e a reflexão sobre como os diferentes povos de hoje e da Antiguidade habitam e constroem as suas cidades.
“A exposição Pólis – Viver na Cidade Grega Antiga traz uma abordagem em torno dos sentidos e significados do viver em uma cidade, que a população grega antiga inventou e passou a estruturar a partir do século VIII antes de Cristo e depois foi difundido por todo o Mediterrâneo”, esclarece o historiador Silva. “Centenas de cidades compunham esse mundo grego antigo, entretanto conhecemos mais sobre Atenas e Esparta. Nesta exposição optamos por explorar outras cidades, ampliando o repertório do público sobre esse assunto.”
Silva chama a atenção para a maquete da pólis Selinonte, uma cidade costeira e portuária do século V a. C. localizada na atual ilha da Sicília, na Itália. “Na parte mais alta da cidade encontra-se a Ágora, que era a praça pública, local de intensa atividade. Também há templos em áreas elevadas no campo, à direita da maquete. Eram locais dedicados aos deuses, construídos para abrigar estátuas de uma divindade. Na área externa, ficavam os altares, onde eram praticados os sacrifícios de animais e oferendas de materiais diversos”, orienta. “Do lado esquerdo da maquete, na área que corresponde ao campo, há uma construção que representa a necrópole, nome dado ao cemitério. Os gregos delimitavam bem o mundo dos vivos e o dos mortos. O mundo dos mortos era chamado de Hades e era comandado por um deus com este mesmo nome.”
Outro destaque é o aplicativo interativo produzido especialmente para o viajante entrar e conhecer uma casa grega das antigas poleis. Como se estivesse manipulando um videogame, o visitante caminha pelo espaço observando os diferentes cômodos. “É possível espiar a despensa onde eram colocados os mantimentos, contemplar o pátio interno com a presença de um altar para cultos privados. E ainda a ala feminina, mais interna e reclusa na casa, onde as mulheres faziam os trabalhos de tecelagem e cuidavam das crianças. Na parte superior, estão os quartos. É uma simulação perfeita”, descreve Silva.
Laboratório reúne pesquisas
O espaço onde estão os documentos e os objetos da mostra é pequeno diante do mundo que a exposição representa. As peças foram selecionadas a partir de um acervo único no Brasil. E apresentam as pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga, o Labeca, fundado há 11 anos, que reúne professores, alunos, técnicos e pesquisadores com o objetivo de realizar trabalhos sobre as cidades gregas antigas em seus contatos com o mundo púnico e indígena.
Como bem lembra a professora Elaine Hirata, há muitos pesquisadores mobilizados na montagem da mostra.“Temos recebido estudantes de escolas de toda a cidade. E quando planejamos exposições, procuramos desenvolver simultaneamente cursos de treinamento para professores, que atuam como agentes multiplicadores do conhecimento desenvolvido nas pesquisas.”
O Labeca utiliza múltiplas abordagens, desde videodocumentários até artigos científicos, produzidos pela equipe do laboratório. Uma grande parte desse material está disponibilizada no site www.labeca.mae.usp.br
Uma nova abordagem histórica
A formação básica dos alunos é uma das prioridades do Museu de Arqueologia e Etnologia. A educadora, historiadora e museóloga Carla Gibertoni explica que o MAE tem um grande potencial para contribuir com os estudantes de primeiro e segundo graus para a compreensão da história do Brasil. “Uma história que se inicia com a chegada das populações indígenas há mais de 10 mil anos, e não a partir da presença dos colonizadores europeus no século 16, e que vem se desenvolvendo ao longo desses séculos a partir da riqueza construída com a multiplicidade de culturas”, afirma Carla.
Na avaliação da educadora, o currículo escolar, base do sistema formal de ensino, traz muitos equívocos e falhas. “Nesse sentido uma instituição universitária como o MAE, que desenvolve plenamente sua vocação de pesquisa, ensino e extensão, pode contribuir com novas informações e reflexão crítica com vistas também à formação integral dos estudantes escolares.”
Carla ressalta que uma das estratégias prioritárias para o setor educativo do MAE é a formação dos professores. “Essa ação potencializa o alcance das suas ações junto ao público escolar. Os professores, ao participarem tanto de encontros de formação mais teóricos quanto dos relacionados ao empréstimo de recursos pedagógicos desenvolvidos pela instituição, têm melhores condições de abordar com seus alunos os conceitos e conteúdos inovadores pesquisados pelos profissionais do MAE. Dessa forma o currículo escolar pode ser desenvolvido também a partir de outras perspectivas e não somente por meio dos livros didáticos.”
A exposição Pólis – Viver na Cidade Grega Antiga pode ser vista 2ª, 4ª, 5ª e 6ª feira, das 9 às 17 horas. Aberta no 2º sábado de cada mês, das 10 às 16 horas. Fechada às terças-feiras e feriados. A entrada é gratuita. O MAE USP fica na Avenida Professor Almeida Prado, 1.466, São Paulo, na Cidade Universitária, Butantã. Mais informações pelo tel. (011) 3091-4905 ou pelo www.mae.usp.br. Em cartaz até 30 de junho de 2017.