Resposta a uma polêmica

Coluna de Marisa Midori sobre o livro de Roberto Calasso “Como Organizar uma Biblioteca” tem repercussão negativa

 04/08/2023 - Publicado há 12 meses     Atualizado: 14/08/2023 as 12:02

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Recebi uma carta do Conselho Regional de Biblioteconomia – 8ª região – São Paulo, assinada por sua presidenta, Ana Claudia Martins e pela diretora financeira, Dina Elisabete Uliana. Eu não vou ler o texto na íntegra, mas me pareceu muito justa a crítica que me foi feita. 

Quando eu comentei o livro de Roberto Calasso, eu disse que havia tentado organizar a minha biblioteca com o auxílio de um software. Todo o meu trabalho consistia em ler o código de barras do volume com meu celular e, a partir daí, o reconhecimento da edição era feito pelo ISBN. As representantes do conselho argumentaram que eu não apenas reduzi o ofício do bibliotecário a uma visão simplista de organizar os livros numa estante. E, o que é pior, sugeri que um software pode, hoje, substituir todo o conhecimento apreendido na biblioteconomia. É verdade que eu falava de uma experiência pessoal malograda! E do livro de um editor, Roberto Calasso, que propõe reflexões sem método sobre a arte do colecionismo e da bibliofilia!

Mas ainda assim, eu quero pedir, publicamente, minhas desculpas se permiti, com minha fala, este tipo de mal-entendido. Eu poderia fazer várias colunas, uma hora dessas faço pelo menos uma, para dizer o quanto os bibliotecários e as bibliotecárias foram importantes na minha formação como leitora e, até depois, bastando dizer, como digo sempre, que se não fossem as bibliotecárias da Faculdade de Direito meu Império dos Livros, que ganhou tantos prêmios e que hoje ainda forma tantos pesquisadores, não existiria da forma como este livro existe hoje.  

Há aqui uma discussão importante, que toca a substituição da competência do profissional pelos softwares ou pela inteligência artificial, que é o grande debate do momento. Sem dúvida. Médicos, editores, professores, artistas, escritores… enfim, não digo que estejamos todos ameaçados pela IA, mas existe a ideia – uma ideia muito perigosa, por sinal – de que a informação substitui o conhecimento e prática. E é disso que trata a carta que eu recebi. 

No caso da História isso acontece muito, pois todos sabemos contar histórias, logo somos todos historiadores. O que é verdade! Mas a produção científica é bem mais do que isso. Ela pressupõe, dentre muitas outras coisas, a crítica às fontes, o domínio de uma certa metodologia… e o que válido para a História é válido para a produção e a recepção do conhecimento em todas as áreas. 

Isso não quer dizer que as áreas do conhecimento não possam dialogar. Há inter-relações e a História do Livro é, por definição, um campo interdisciplinar. É por esse motivo que O Saber dos Bibliotecários, para citar o título do meu querido amigo Michel Melot, que eu, inclusive, editei na Coleção Bibliofilia, que dirijo com Plinio Martins Filho, me é tão caro e que eu jamais desabonaria o valor dos bibliotecários. 


Bibliomania
A coluna Bibliomania, com a professora Marisa Midori, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 9h00, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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