O filme Oppenheimer tem sido tão comentado que é quase obrigatório que a coluna seja sobre esse tema, mas acho que a primeira pergunta que deve ocorrer ao ouvinte é o que que teria o Oppenheimer a ver com o tema da coluna que é sustentabilidade? E o mais engraçado é que tem muito. Porque na imprensa e nas mídias em geral o que a gente tem visto é uma discussão um pouco estranha sobre o relacionamento entre a história dele, que é uma história incrível, e a questão da inteligência artificial. Dá para entender, mas as coisas são tão diferentes, que fica meio… Fora isso, tem muita discussão sobre o próprio filme, se ele de fato é ou não é fiel ao que teria sido ou que é a biografia dele. E outra coisa, como o fato de o filme ter inovações, tipo inverter o uso do preto e branco e uso do colorido, e assim por diante. Claro, quase todos se referem ao Oppenheimer como uma espécie de grande símbolo do que normalmente as pessoas chamam de era nuclear. Afinal foi ele que deu início àquele grande laboratório de Los Alamos, no Novo México. Uma coisa muito impressionante, e coisas que a gente também não sabia, é que muito rapidamente ele passou de algumas dezenas de funcionários para 6 mil funcionários naquele laboratório.
Pois é, tudo isso pode ter algum interesse, mas o que é estranho é que não há nessas reportagens uma referência, uma questão, ou mesmo até um sinal, que mostra que o problema da sustentabilidade ainda está longe de ser bem conhecido pela maior parte das pessoas. É que ele também é, a rigor, um dos símbolos do Antropoceno. O Antropoceno está sendo definido justamente como a época em que os humanos passaram a ser o principal vetor das mudanças sistêmicas do planeta, vamos dizer assim, e o jeito de verificar isso pelos geocientistas é o uso da estratigrafia, que não é uma ciência muito conhecida. Mereceria, eu até sugiro ao ouvinte mais interessado, que espie pelo menos na Wikipédia, o que é estratigrafia e como ela evolui. Mas o fato é que os geocientistas estão justamente propondo que o lago Crawford, que fica no Canadá, na Província de Ontário, seja tomado como o testemunho fundamental e básico de fundamentação do Antropoceno, para efeito de formalização, para efeito de reconhecimento pela Organização Mundial dos Geólogos. E o que eles estão mostrando é que no fundo desse lago, que tem uns 25 m de profundidade, os testemunhos são justamente do plutônio. O plutônio radioativo do início dos anos 50, que é a ideia central de datação, vamos dizer assim, do Antropoceno.
Sustentáculos
A coluna Sustentáculos, com o professor José Eli da Veiga, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção na Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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