Maurina: O Outono Que Não Acabou, filme brasileiro premiado no Festival Cinema Independente de Sevilha (Seviff), na Espanha, como Melhor Documentário de Longa-Metragem, Melhor Diretor de Documentário de Longa-Metragem e Melhor Diretor Estreante de Documentário de Longa-Metragem, tem roteiro e direção de Gabriel Silva Mendeleh, servidor da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP.
O longa-metragem tem 85 minutos de duração e conta a história de Maurina Borges da Silveira, freira e ex-diretora do Lar Santana, em Ribeirão Preto (SP), presa em 1969 pela ditadura militar brasileira sob acusação de um suposto envolvimento com a Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN). Maurina foi a única freira presa no período do regime militar (1964-1985) e sofreu diversas torturas físicas e psicológicas durante sua prisão, passando pela cadeia pública de Cravinhos (SP) e pelas prisões de Tiradentes e Tremembé. Em 1970, acabou sendo extraditada para o México.
No documentário são entrevistados ex-presos políticos de Ribeirão Preto e São Paulo que conviveram e testemunharam a rotina e torturas a Maurina nas prisões. Também contou com o depoimento de historiadores, jornalistas, religiosos e o advogado de defesa da madre. As entrevistas são intercaladas com imagens de arquivo e de reportagens da época, bem como animações e reconstituições com atores que dão vida à narrativa, reproduzindo os depoimentos e uma carta escrita pela própria religiosa enquanto extraditada no México. Um desafio, segundo Mendeleh, pois muitos documentos dessa época desapareceram ou foram “desaparecidos” e queimados. “Cada novo documento ou imagem encontrados era uma conquista, sem contar que até hoje muita gente tem medo de falar sobre o que aconteceu. A ditadura marcou profundamente nossa sociedade e as consequências são vistas até hoje”, acrescenta Mendeleh.
Carreira do jovem e premiado diretor
Atualmente Mendeleh atua na Rádio USP de Ribeirão Preto (107,9 MHz), onde produz e apresenta o programa Express Cultura. Formado em Audiovisual pela Universidade Federal de São Carlos, em 2009, aos 37 anos Mendeleh já acumula alguns trabalhos na área, como a codireção de curtas-metragens, produção em campanhas publicitárias e diretor de DVD de duas bandas. Mas essa é a primeira vez que atua como roteirista e diretor de longa-metragem.
Para Mendeleh, o grande desafio de produzir cinema independente no Brasil é a falta de apoio. “Um filme é um produto caro, e conseguir dinheiro para arte no Brasil é um grande desafio, principalmente nos últimos anos, quando tivemos cortes significativos nas verbas públicas voltadas para a cultura. Além disso, enfrentamos um desafio maior ao pesquisar material da época da ditadura, quando a censura atuava dificultando a produção de notícias.”
Ao comemorar as premiações, Mendeleh conta que já havia dirigido curtas-metragens, mas este é o primeiro longa e confessa que o desafio foi muito grande, pois documentário histórico carrega o peso de lidar com a vida de pessoas reais. “Sua ética tem que ser muito apurada, pois você está lidando com vidas e histórias de pessoas e famílias. Alguma informação ou colocação equivocada pode prejudicar muitas pessoas.”
A cerimônia de premiação será em Sevilha no final deste mês. Produzido pela Kauzare Filmes, o documentário foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo (Proac) em 2019 e também já foi selecionado em outros quatro festivais internacionais. O filme segue aguardando o resultado em outros festivais de cinema ao redor do mundo antes de estrear no Brasil. A data de estreia deverá ser confirmada em breve. Mas o trailer já pode ser visto aqui.
Com informações de Milena Maganin