Mariana Carneiro e Gabriele Koga
Aos 28 anos de idade, o cantor Jão — apelido de infância de João Vitor Romania Balbino, depois adotado como nome artístico — possui uma carreira repleta de sucessos. Após apresentar-se para plateias lotadas no Lollapalooza Brasil e Rock In Rio, conquistar certificados de platina por canções de seus três álbuns de estúdio e arrebatar prêmios da música brasileira, o artista recebeu duas nomeações ao Grammy Latino, premiação internacional que enaltece a excelência de obras gravadas em espanhol ou português.
A série de triunfos do cantor teve início ainda na adolescência: aos 17 anos, Jão ingressou na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, onde cursou Publicidade e Propaganda. Em sua agenda, a graduação dividia espaço com performances em bares e gravações de covers para o Youtube, com um repertório que variava do pop leve de Sam Smith até a sofrência de Marília Mendonça.
A influência do pop e do sertanejo é perceptível nas composições autorais de Jão, que possuem versos carregados de um sentimentalismo típico da juventude. Em Idiota (2021), faixa indicada ao Grammy Latino na categoria Melhor Canção em Língua Portuguesa, Jão canta sobre o iminente fim de um romance no qual o afeto não é recíproco. “Eu vou te beijar como um idiota beija/ Vou me preparar pro dia em que você já não me queira/ Mas enquanto você não se cansa/ Eu vou te amar como um idiota ama” é parte da letra.
O álbum Pirata, também de 2021, foi indicado a Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa, categoria que já premiou obras de Milton Nascimento, Marisa Monte, Sérgio Mendes e outros grandes nomes da música popular brasileira. Neste ano, o disco de Jão — que é o terceiro lançado pelo cantor — concorre com projetos de Marina Sena, Luísa Sonza, Bala Desejo e Gilsons.
Além das duas indicações, Jão foi convidado a se apresentar no pré-show da cerimônia de entrega dos prêmios, que ocorre no dia 17 de novembro em Las Vegas, nos Estados Unidos. Marcada para as 18 horas, a performance será transmitida para o Brasil pelas redes sociais do evento e pelo canal de televisão por assinatura TNT.
“2013 foi um ano e tanto”
Natural de Américo Brasiliense — cidade do interior de São Paulo, que pertence à microrregião de Araraquara —, Jão encontrou seu nome na lista de aprovados da Fuvest em 2013, momento que eternizou nos versos da canção Meninos e Meninas (2021): “2013 foi um ano e tanto”. O calouro deixou sua cidade natal, com pouco mais de 40 mil habitantes, para explorar a capital paulista e o Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP) da ECA.
Foi na Universidade que conheceu Renan Augusto Silva e Pedro Tófani, seus amigos e atuais sócios na U.F.O Sounds — empresa responsável pelo gerenciamento de sua carreira artística, produção criativa e cenografia. “A ECA foi o primeiro lugar que encontramos para dar vazão às nossas vontades criativas”, conta Pedro Tófani. A colaboração entre os três esteve presente desde os primeiros passos de Jão na indústria musical. “Não lembro a data exata em que oficializamos a parceria, porque tudo aconteceu de forma bem gradual. Ter esse lado pessoal tão alicerçado me fez um profissional melhor do que qualquer abordagem mais técnica teria feito”, continua.
Jão se formou na USP em 2018, mesmo ano do lançamento de seu primeiro álbum de estúdio, Lobos. Recém-contratado pela gravadora Universal Music, o artista teve que conciliar a produção do disco de estreia com a escrita de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que tinha como tema a música nacional. No trabalho, intitulado Funk Brasileiro: De Vozes Periféricas a Fenômenos Mainstream, Jão analisa os processos históricos, sociais e estruturais que permitiram a consolidação do funk como um produto cultural de massa. Elaborado em conjunto com os sócios Pedro Tófani e Renan Augusto, o TCC também chama a atenção para as estratégias utilizadas por empresários no engrandecimento de artistas do funk. Cada um dos estudantes se dedicou ao estudo da trajetória profissional de um cantor diferente: Jão analisou a carreira de MC Fioti; Pedro, a de Kevinho; e Renan, a de Anitta.
Hoje, Tófani é responsável pela direção dos videoclipes e visuais para turnês do amigo artista. O vídeo que acompanha a faixa Imaturo — do álbum de estreia de Jão, Lobos (2018) — foi o primeiro dirigido por Tófani, então estudante de Relações Públicas na ECA. As cenas foram gravadas no velódromo do Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp) e na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, ambos localizados na Cidade Universitária, em São Paulo.
Ouça no link abaixo a música Imaturo, de Jão.
“O que fizemos com Imaturo foi milagroso para o baixo investimento que tínhamos. Eu acho as gravações dos clipes sempre muito estressantes, mas Imaturo, mesmo sendo um perrengue, foi bem legal porque nossos amigos nos deram uma força muito grande. Até hoje é assim, isso não mudou muito”, aponta. Posteriormente, Tófani dirigiu os vídeos das músicas Vou Morrer Sozinho (2018), Me Beija Com Raiva (2018), Essa Eu Fiz Pro Nosso Amor (2019), Louquinho (2019), Amor Pirata (2021), Coringa (2021) e Idiota (2022), faixa indicada ao Grammy Latino.
Tendo Jão como protagonista, o clipe de Idiota mergulha no universo cinematográfico e recria as cenas de romance em Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), Titanic (1997), 10 Coisas que Eu Odeio Em Você (1999), Homem-Aranha (2002) e O Segredo de Brokeback Mountain (2005), além de homenagear o casal Ayrton Senna e Xuxa.
No vídeo, o cantor contracena com mulheres e homens, que interpretam seus interesses amorosos. Bissexual, Jão fala abertamente sobre a sexualidade em suas composições: “Pelo sucesso que atingi, eu preciso ser o mais honesto possível com os meus fãs”, disse o artista, em entrevista à revista Veja, em junho de 2022.
Ouça no link abaixo a música Idiota, de Jão.
Idiota foi o terceiro single do álbum Pirata, que concorre ao Grammy Latino. O disco venceu a categoria Álbum do Ano do MTV Millennial Awards Brasil, foi indicado ao Prêmio Multishow de Música Brasileira e alavancou o número de ouvintes de Jão nas plataformas digitais — atualmente, o cantor contabiliza cerca de 2,5 milhões de ouvintes mensais no Spotify.
Para divulgar o projeto, Jão embarcou em uma turnê homônima que já acumula mais de R$ 30 milhões em receita. Performático, o artista se apresenta em um navio cenográfico, disposto no centro do palco, contribuindo para a atmosfera marítima proposta em Pirata. Além dos sucessos recentes, o repertório dos shows inclui músicas dos álbuns Lobos (2018), Anti-Herói (2019) e um cover de O Tempo Não Para, canção oitentista de Cazuza. Estima-se que, ao todo, 250 mil pessoas tenham prestigiado o cantor nas 38 datas da turnê, que passou por todas as regiões brasileiras e também por Portugal.