Especialista em História Americana comenta vitória de Trump nos EUA

A vitória do republicano Donald Trump para a presidência dos EUA surpreendeu por não ter sido prevista pelas pesquisas e projeções, que apontavam para uma vitória da democrata Hillary Clinton

 09/11/2016 - Publicado há 7 anos

Acompanhe a entrevista do repórter Fabio Rubira com o professor Robert Sean Purdy, especialista em história americana da USP:

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O republicano Donald Trump, ao contrário de todas as expectativas, é o novo presidente dos Estados Unidos, tendo obtido uma vitória surpreendente sobre a democrata Hillary Clinton, que, até segunda-feira, aparecia como favorita nas principais pesquisas, com uma média de quatro pontos de vantagem. Trump aparecia na frente em apenas uma, a do LA Times/USC Tracking. Nas outras sete pesquisas listadas pelo Real Clear Politics, a democrata liderava por uma margem que ia de um a sete pontos.

Foto: Michael Vadon via Fotos Públicas
Foto: Michael Vadon via Fotos Públicas

Da mesma forma que grande parte dos eleitores norte-americanos, o professor Robert Sean Purdy, especialista em História Americana do Departamento de História da Universidade de São Paulo, se diz chocado desde que soube da vitória de Trump, um resultado que não previa. Para ele, a vitória do republicano representa um desastre para os Estados Unidos, e entende que parte da culpa cabe ao Partido Democrata, o qual, complacente com as elites liberais do país, nada ofereceu como alternativa para a classe trabalhadora e para as classes menos favorecidas da sociedade norte-americana.

“Eles (Partido Democrata) se aproximaram cada vez mais dos banqueiros e dos empresários, optando pela escolha de uma candidata que não conseguiu convencer as pessoas.” A verdade, de acordo com o professor Purdy, é que o Partido Democrata não tinha uma solução para os graves problemas socioeconômicos (queda de salários, desigualdade crescente, desemprego) dos Estados Unidos, os quais afetam não somente as camadas mais pobres da população, mas também os segmentos médios da sociedade, inclusive a classe trabalhadora branca. Ele não acredita que Trump – “que não apresentou uma política econômica consistente” – também tenha alguma solução para os atuais problemas do país; em contrapartida, “Hillary não ofereceu nada de novo e não conseguiu convencer os eleitores”.

Como se não bastasse a vitória sobre Hillary Clinton, Donald Trump tem para comemorar o fato de que seu partido manteve o controle do Congresso. Com maioria na Câmara dos Representantes e no Senado, o republicano não deverá enfrentar dificuldades para aprovar medidas. Em seu discurso de vitória, Trump deixou as bravatas de lado e adotou um tom conciliador, que parece não ter tido muito efeito na prática, uma vez que sua vitória provocou protestos em várias cidades americanas.

Embora considere qualquer previsão muito precoce, Purdy acredita que Trump, devido às suas posições polêmicas, deverá enfrentar resistências e oposição dentro de seu próprio partido e no Congresso, sobretudo nos primeiros meses de 2017.

Para a comunidade internacional, a vitória do republicano repercutiu negativamente. No Brasil, o mercado financeiro reagiu com pessimismo ao resultado da eleição nos Estados Unidos. O dólar chegou a subir mais de 2% e a tendência é de que continue em elevação, enquanto a Bovespa abriu os negócios em queda de mais de 3%. A vitória de Trump, que contrariou as expectativas do mercado, derrubou também os mercados na Ásia. Na Europa, os mercados igualmente abriram em forte queda.

Na visão do professor da USP, Trump representa o que há de pior ao adotar uma política que acentua e aprofunda as divisões de raça e de classe que já existem em um país como os Estados Unidos. Ele também culpa Barack Obama pela situação atual, uma vez que o democrata deixou a desejar no campo econômico, nada fazendo, nos últimos oito anos, para restaurar a confiança da classe trabalhadora. Por tudo isso, Purdy vê a vitória do republicano como uma tragédia anunciada e motivo para muita reflexão.


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