Pesquisas astronômicas emitem cerca de 1 milhão de toneladas de CO2 por ano

O professor Roberto Costa fala sobre a composição da pegada de carbono da astronomia e destaca a importância da conscientização

 04/05/2022 - Publicado há 2 anos
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Telescópios em órbita precisam ser lançados e lançar qualquer dispositivo para a órbita da Terra implica dispêndio enorme de combustível – Foto: Pixabay
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De acordo com estudo veiculado na revista francesa Nature Astronomy, as pesquisas astronômicas emitem cerca de 1 milhão de toneladas de dióxido de carbono por ano. A elevada pegada de carbono relacionada à astronomia levanta desafios para o trabalho científico, que deve pensar em soluções sustentáveis para suas pesquisas.

Roberto Dell’Aglio Dias da Costa, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, analisa a emissão de carbono na ciência astronômica. De acordo com o professor, a pegada de carbono da astronomia tem que ser dividida em várias origens: “Primeiro, a construção civil, construir um observatório no alto de uma montanha implica dispêndio de energia enorme, implica máquinas de construção de estradas, em terraplanagem, tudo isso é um dispêndio de energia, é emissão de carbono, não tem como fazer de outra maneira. Certamente, uma fração importante da pegada de carbono da astronomia está na construção civil dos observatórios”.

Outro contribuidor importante na emissão de carbono é a astronomia espacial, que está baseada em telescópios em órbita da Terra. “Telescópios em órbita precisam ser lançados e lançar qualquer dispositivo para a órbita da Terra implica dispêndio enorme de combustível. É preciso um gasto muito grande de combustível para lançar uma carga relativamente pequena em órbita. Então, os observatórios espaciais são muito dispendiosos nesse sentido”, indica Costa.

Professor Roberto Dell’Aglio da Costa – Foto: IAG-USP

Os observatórios astronômicos profissionais também contribuem para o aumento da pegada de carbono. O professor comenta que construir um observatório no alto de uma montanha é algo muito caro e requer uma quantidade considerável de infraestrutura: “Normalmente, os observatórios profissionais reúnem vários telescópios na mesma montanha. A operação desses observatórios requer uma grande quantidade de deslocamento, tem carros subindo, carros descendo, transporte de equipamento dos telescópios para as oficinas e vice-versa. Tudo isso poderia ser passado para veículos elétricos, porque são deslocamentos pequenos, deslocamentos da ordem dos quilômetros ou das dezenas de quilômetros, não são deslocamentos de centenas de quilômetros, que ainda são complicados para veículos elétricos”.

Além disso, há também atividade cotidiana dos astrônomos, que consiste na aplicação de aulas, atividades nos observatórios e nas universidades, além da participação em conferências. “Um exemplo simples da área da astronomia, eu preciso participar de uma conferência científica para expor o meu trabalho, apresentar o meu trabalho e os meus resultados para os meus pares, isso é importantíssimo em qualquer atividade científica. Mas, se essa conferência for em outro continente, a pegada de carbono por participante é imensa. Então, isso pode ser e já está sendo minimizado de várias maneiras, ou por atividades de compensação, quando é inevitável fazer uma reunião presencial, ou fazendo as reuniões remotas. Nos últimos dois anos, em função da pandemia de covid-19, uma quantidade enorme de soluções tecnológicas foi desenvolvida ou foi melhorada”, relata Costa.

Soluções em conjunto

O professor destaca que a redução das emissões de CO2 não passa por uma única solução: “São várias soluções, que podem até ser pequenas em si, mas que se somam, como é o caso de usar veículos elétricos, usar geradores de energia solar para os observatórios, minimizar o dispêndio de carbono em conferências, fazendo-as, quando for possível, de forma remota. Para o caso da astronomia espacial, já existe a possibilidade de lançar vários satélites com um único foguete, o problema não está no satélite em si, está no lançamento. Mas já existe tecnologia capaz de lançar vários satélites com um único foguete, isso está sendo feito para satélites de comunicação, por exemplo. Então, eu acho que o caminho é por aí, não é uma única solução mágica, mas várias soluções complementares que apontam para o mesmo sentido, para a mesma solução”.

A redução das emissões de CO2 não passa por uma única solução – Foto: Pixabay

 

A diminuição da pegada de carbono é uma responsabilidade de todos e a comunidade científica deve servir como exemplo. Costa salienta que “a ciência é feita pelos cientistas, por pessoas e essas pessoas estão inseridas em suas comunidades. Portanto, as pessoas devem agir de acordo com os seus padrões éticos e com o que eles veem, com o que eles visualizam para o futuro da sua comunidade. O cientista, seja ele de que área for, está inserido na sua comunidade e precisa ser um referencial para sua comunidade”.

Para o professor, é essencial que as pessoas se conscientizem sobre sua própria pegada de carbono. “Tem que passar por uma conscientização, poucas pessoas se deram conta de que cada um, não importa a sua atividade profissional, deixa uma pegada de carbono. Cabe à conscientização da sociedade, é claro que isso passa pela educação, passa pela administração pública de criar esse tipo de conscientização, de que vai ser preciso cada vez mais minimizar a pegada de carbono, porque o efeito a longo prazo vai ser sobre todos nós, não vai ser só sobre o profissional da área A ou da área B. Os efeitos a longo prazo do excesso de dióxido de carbono na atmosfera são globais”, ressalta.


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