Meios digitais exigem novas formas de diplomacia e de relacionamento entre países

Segundo Gabriela Ferreira, o espaço virtual mudou a maneira de se fazer política, e nesse contexto a diplomacia tem de procurar ajustar-se para poder abordar os novos interesses para os atores políticos no cenário mundial 

 17/11/2021 - Publicado há 2 anos
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A diplomacia digital é um termo amplo utilizado para definir a nova manifestação da política externa de um país  – Foto: Pixabay/fotomontagem Jornal da USP
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A internet cada vez mais está integrada ao cotidiano mundial e transformando as relações entre os países e os meios pelos quais interagem. Já é possível notar os efeitos dessa mudança na política externa, uma vez que ela é um dos setores onde é possível ver a influência do uso das diferentes redes sociais e ferramentas on-line na dinâmica internacional.

A política também tem um viés muito digital, a gente tem o uso intensivo de redes sociais que criam novos processos comunicativos, isso mudou a forma como a gente se põe no mundo enquanto ser político”, diz em entrevista Gabriela Ferreira, professora associada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Segundo ela, o espaço virtual mudou a maneira de se fazer política, tanto interna quanto externa. Nesse contexto, a diplomacia tem de ajustar-se para uma nova forma de se comunicar e poder abordar os novos interesses para os atores políticos no cenário mundial. 

A diplomacia digital é um termo amplo utilizado para definir essa nova manifestação da política externa de um país, assim como as medidas protetivas que esses agentes possuem na internet . “O uso mais amplo da tecnologia, especialmente a internet, pensando na forma como os atores da política externa e da diplomacia propriamente dita se mobilizam, o que eles conseguem e como eles conseguem se comunicar com o mundo, mudou a forma da própria lógica da negociação”, explica Gabriela.

Diplomacia digital e diplomacia cibernética

Um exemplo dessa situação é a utilização de redes sociais por figuras políticas de um país para expor suas posições referentes a outro ator internacional e os desdobramentos que isso acarreta. Durante o segundo semestre de 2020, o deputado federal e filho do presidente da República Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) atacou o governo chinês em seu Twitter, o que criou um impasse na negociação e importação de insumos sanitários necessários no combate à pandemia de covid-19.

A diplomacia cibernética, por outro lado, trata de situações relacionadas à cibersegurança de uma nação e o uso do espaço digital, tanto por países quanto por organizações e indivíduos, de modo a conseguir seus objetivos. “Essas estratégias para enfrentar novas questões, que são normalmente vinculadas a questões de segurança no ciberespaço, esse trabalho que os diplomatas realizam defendendo os interesses das instituições de um certo Estado e que a cibersegurança coloca em prática para proteger o que se pode considerar como ativos tangíveis ou intangíveis.” 

Gabriela exemplifica comentando ataques às infraestruturas de um país, um ativo tangível,  ou vazamento de dados governamentais, ativos intangíveis, como os principais alvos que hackers escolhem para seus ataques. Em maio de 2021, um grupo de hackers realizou um ataque massivo contra um oleoduto da empresa Colonial, desconectando-a da rede, afetando a distribuição de combustíveis nos Estados Unidos e roubando mais de 100 GB de informações.

Cooperação internacional

Desde 2019, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem preocupações sobre o assunto, criando grupos que buscam discutir diversos tópicos e medidas. De acordo com Gabriela: “É natural que a ONU seja um espaço privilegiado de debate; em 2019, nas Nações Unidas, houve uma resolução sobre cibernéticos que criou um grupo de especialistas para redigir o que a gente chama de termos de tratados multilaterais”.

Apesar de existirem regulamentações sobre o tópico, não existe um conselho na ONU para lidar diretamente com a situação. Recentemente, a França, um dos membros permanentes no Conselho de Segurança da entidade, ressaltou a importância de medidas mais formais para lidar com os riscos e vulnerabilidades relacionados à cibersegurança.

Gabriela ressalta a importância da cooperação entre os países para a criação de uma regulação internacional em torno da cibersegurança e dos interesses nacionais:“As nossas vidas são cada vez mais vividas numa dimensão digital. A segurança cibernética se coloca assim como central, uma questão muito urgente, sobre definir como vai ser o futuro da sociedade”.

Nesse ponto, a falta de consenso entre as nações sobre a utilização e os limites dos meios digitais entra no caminho dessa resolução. “A  diplomacia nesse ponto é essencial para o estabelecimento de um solo comum de discurso, de um emparelhamento discursivo entre os países e os atores”, conclui Gabriela.


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