Como, por que e para que a sociedade criou e sustenta um influenciador digital?

Ensaio da revista “RuMoRes” traz uma discussão sobre essas pessoas que “ditam regras” sociais, culturais e políticas por meio de programas, vídeos e canais

 19/09/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 20/09/2022 às 16:53

Foto: Reprodução/Freepik

 

Margareth Artur, da Agência de Bibliotecas e Coleções Digitais da USP

I nfluenciar significa influir, sugestionar, persuadir, de acordo com os significados que todos conhecem. Nas mídias digitais, nos deparamos com as figuras dos “influenciadores”, entendidos hoje como aqueles que, muitas vezes, sem o público/leitor/ouvinte perceber, “ditam regras” sociais, culturais e políticas por meio de programas, vídeos e canais. Esse é o tema do ensaio Influenciadores, intelectuais, mediadores simbólicos publicado na revista RuMoRes. Para captar essa singularidade, o autor Renato Ortiz “estabelece um contraste com outras figuras da literatura em ciências sociais: o intelectual, os mediadores simbólicos, as celebridades. É no contraponto entre essas categorias que a dimensão da ‘influência’ se explicita”.

Renato Ortiz – Foto: Reprodução/Unicamp

No texto, Ortiz ressalta que tanto os intelectuais quanto os mediadores simbólicos – quem divulga, por exemplo, as revistas de design, um tipo de gosto artístico (o que é belo, elegante, fino) ou os programas de televisão sobre gastronomia – independem da internet. As “mensagens” são transmitidas por livros, revistas e vídeos. Mas os  influenciadores digitais não sobrevivem sem a internet: “são prisioneiros da digitalidade que lhes permite existir“.

Ortiz tece um pequeno panorama histórico sobre a velocidade do surgimento das “novidades” digitais, com o aparecimento dos aplicativos interativos nas redes sociais, a produção dos textos e vídeos, que se torna vertiginosa à medida que os influenciadores ganham notoriedade e persuadem fortemente o público receptor.  

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Os influenciadores tornam-se, assim, pequenas celebridades, habitam os jornais, revistas, programas de televisão e, claro, a internet“, afirma o autor. “Será que estamos diante de uma nova profissão?”, questiona. No sentido de compreender melhor a palavra “influenciador”, Ortiz compara essa figura com os intelectuais e mediadores simbólicos. Os pensadores “dão sentido ao mundo, por intermédio de uma ideologia […] que dá coerência ao que se encontra disperso“. Os influenciadores, por outro lado, repassam ao público, de forma mastigada e tendenciosa, o que já existe em todos os campos do conhecimento. Uma característica que difere o influenciador dos intelectuais é a obrigatoriedade da expressiva audiência.

Assim, quanto maior o número de seguidores e maior o número de likes, maior é a fama e, consequentemente, o retorno financeiro do influenciador. Para o autor, “a aproximação entre influenciadores e mercado nada tem de surpreendente, eles se completam.” Outra característica é a necessária interatividade que o influenciador deve estabelecer com seu público, visando persuadi-lo emocionalmente para que alcance seus objetivos: conversar, interessar-se, ouvir quem está disposto a ser um seguidor em potencial, conquistando, assim, a esperada visibilidade. Finalizando, fica patente o intuito do autor em propor uma reflexão sobre o “influenciador”, ao pôr em pauta o contraste com os intelectuais, os mediadores simbólicos e as celebridades.

Artigo

ORTIZ, R. Influenciadores, intelectuais, mediadores simbólicos. RuMoRes, São Paulo, [S. l.], v. 16, n. 31, p. 279-289, 2022. ISSN: 1982-677X. DOI: 10.11606/issn.1982-677X.rum.2022.200396. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/Rumores/article/view/200396. Acesso em: 17 ago. 2022.

Contato

Renato Ortiz – Professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autor dos livros: Trajetos e Memórias, Universalismo e Diversidade, O Universo do Luxo e Sobre o Trabalho Intelectual.

 


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