Arte de Maria Bonomi homenageia os mortos pela pandemia

Instalada no Memorial da América Latina, em São Paulo, obra é uma reverência à dor de todos

 29/10/2021 - Publicado há 2 anos
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A obra de Maria Bonomi inaugurada no dia 27 passado no Memorial da América Latina, em São Paulo - Foto: Divulgação

Sob a chuva, na tarde de 27 de outubro, com o Brasil registrando mais de 606 mil mortos por covid-19, a artista Maria Bonomi atravessa o grande pátio do Memorial da América Latina, em São Paulo, para inaugurar, em frente ao Auditório Simón Bolívar, a obra Réquiem para os Tombados pela Covid-19 na América Latina.

Líderes de todas religiões do País e representantes dos povos africanos e indígenas se reuniram para rezar juntos por todas as vítimas do planeta e pelo fim da pandemia. As mãos postas em oração estão representadas pelas duas grandes placas da instalação. 

“É preciso registrar o sofrimento que a América Latina e o mundo estão vivendo”, afirma a artista. Maria Bonomi, que traduz, em sua arte, os sonhos e as lutas da nossa história – um símbolo é o painel Epopeia Paulista, na Estação da Luz, também em São Paulo – sintetizou a dor e a perda através do vazio representado nas placas. Os mapas dos países estão no chão, deixando o contorno de seus limites no ar, através do qual podemos ver os prédios, os carros e o movimento da cidade e da vida tentando voltar à normalidade.

Nas superfícies das placas em aço com alturas de 6 e 4 metros estão representados 23 países: Antilhas Holandesas, Argentina, Aruba, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, Haiti, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname, Uruguai e Venezuela.

Maria Bonomi descreve a obra no áudio abaixo:

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Maria Bonomi e a obra Réquiem para os Tombados pela Covid 19 na América Latina - Foto: Divulgação

“Espero que a arte possa ser praticada por todos, em todas as idades e o acesso a ela seja infinito e sempre público.” (Maria Bonomi)

Maria Bonomi conta que a obra nasceu de uma conversa com o presidente do Memorial da América Latina, Jorge Damião, e a artista Helena Peres Oliveira, que produziu a obra Etnias, também no Memorial. “Nós conversamos sobre a necessidade de falar sobre esse tempo difícil da pandemia e o Memorial tem a missão de sinalizar também as questões da contemporaneidade. De repente, a imagem da obra veio quase pronta em cima da minha angústia e da minha dor.”

A artista tem sonhos infinitos no horizonte. “Mas todos realizáveis”, como ela afirma no áudio a seguir:

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Mas são sonhos que atraem outros e fluem em sua arte marcada pelas reflexões sensíveis e conhecimento. “Espero que a arte possa ser praticada por todos, em todas as idades, e que o acesso a ela seja infinito e sempre público.”

Para a instalação do Réquiem, o Ateliê Maria Bonomi contou com a arquitetura de Rodrigo Velasco, a realização de Diran Garabed Topalian e o apoio do governo do Estado de São Paulo.

A placa que marca a inauguração da obra - Foto: Divulgação

Maria Bonomi já recebeu muitas mensagens de pessoas que perderam seus familiares e amigos no decorrer da covid, comentando sobre o alento que o Réquiem transmite, como ela conta no áudio abaixo:

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O presidente do Memorial, Jorge Damião, lamentou: “Perdi uma irmã, meu cunhado e muitos amigos. A arte de Maria traduz essa emoção e também a solidariedade”.

O cacique tupi-guarani Awa Kuaray Werá, o monge zen budista Ryozan, da Escola Sotozen, a Mãe Vanessa de Oyá, do Templo Cultural Tupinambá, o cônego José Bizon, da Pastoral Ecumênica da Arquidiocese de São Paulo, e todos os líderes religiosos presentes deixaram as suas mensagens e orações. “Toda pessoa tem um nome dado por nossas celebrações e pelo nosso trabalho”, lembrou o rabino Uri Lam, da Congregação Israelita de São Paulo.

Assista no link abaixo a um vídeo sobre a escultura.


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