MAC exibe grandes artistas que quiseram modernizar o cotidiano

Exposição retrata nomes consagrados da arte brasileira, como Di Cavalcanti e Antonio Gomide, sob novo foco

 

 

 27/08/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 30/08/2021 as 14:22
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Arte: Lívia Magalhães/Jornal da USP

Mário Zanini - Grupo em Fuga, 1960 aquarela s/ papel

Projetos para um Cotidiano Moderno no Brasil 1920-1960 é a nova mostra que o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP apresenta, com a proposta de fazer uma nova leitura do trabalho de sete consagrados artistas: Antonio Gomide, Emiliano Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho, Fulvio Pennacchi, John Graz, Mário Zanini e Vicente do Rego Monteiro. Todos integram o acervo do MAC e surpreendem o visitante com ilustrações para capas de revistas, murais decorativos, cartazes, desenhos de cenários e figurinos para peças de teatro e balé. São 120 obras que mostram a linguagem moderna no País, delineando o cenário urbano da São Paulo da primeira metade do século 20.

A curadoria da exposição é do Grupo de Pesquisa Narrativas da Arte do Século 20, sob coordenação da professora Ana Magalhães, diretora do MAC. O grupo é integrado pelas pós-doutorandas Renata Rocco e Patrícia Freitas e pelos pós-graduandos Breno Marques, Rachel Vallego, Gustavo Brognara, Andrea Ronqui, Mariana Leão Silva, Victor Murari e Juliana Caffé.

As obras expostas trazem um questionamento pontual. Embora sejam de grandes pintores e escultores que se projetaram nas chamadas belas-artes, a mostra reúne trabalhos importantes desses artistas nas denominadas artes menores. “A exposição de obras que não se enquadram em um registro convencional do que se entende por belas-artes, isto é, pintura e escultura, apresenta alguns desafios, a começar pela terminologia utilizada para descrevê-las, questionando sua visão como ‘artes menores’ ou ‘artes aplicadas’”, argumentam Ana Magalhães e Patrícia Freitas no texto de apresentação da mostra. “A questão, que pode se colocar a princípio como simplesmente semântica, revela de modo mais profundo o anseio por um vocabulário apropriado às especificidades desses objetos. A ampliação desse escopo linguístico deve refletir uma transformação na abordagem metodológica dessa produção, desviando de visões parciais.”

Para a curadoria, a palavra projeto vem então na esteira desse exercício de ressignificação. “Ela cumpre, no contexto desta mostra, um propósito duplo. De um lado, evidencia a materialidade das obras expostas, revelando aspectos processuais, como no caso dos desenhos para murais que apresentam o reticulado usado para instalação de pastilhas de vidro, ou os estudos de cartazes, que mostram a criação de caracteres modernos próprios para produção gráfica. Esses indícios nos permitem compreender os aspectos experimentais e propositivos desse conjunto, colaborando para o conhecimento de técnicas, usos e funções importantes para as narrativas da arte moderna no Brasil.”

“A incorporação de várias das obras expostas ao acervo do MAC  aconteceu a partir de uma reavaliação da história da arte moderna no Brasil, levada a cabo por Walter Zanini, primeiro diretor do museu.”

 

“As obras apresentadas consistem, em sua maioria, em desenhos feitos sobre papel, com variados materiais, como grafite, crayon, guache, pastel, nanquim, aquarela e lápis de cor. Em geral, as peças são de pequenas dimensões, o que sugere ainda mais pronunciadamente o intuito de deslocamento, fluxo e movimentação”, observam Ana e Patrícia. “Quanto aos murais, a curadoria traçou um roteiro relacionando os estudos do MAC com as obras que ainda estão pela cidade, incentivando o público a visitá-las no espaço urbano.”

“A incorporação de várias das obras expostas ao acervo do MAC aconteceu a partir de uma reavaliação da história da arte moderna no Brasil, levada a cabo por Walter Zanini, primeiro diretor do museu”, esclarecem as curadoras Ana e Patrícia. “Esses objetos estiveram presentes em exposições por ele organizadas entre 1968 e 1977, que se dedicaram a rever alguns personagens importantes do Modernismo no Brasil, mas que não pareciam vincular-se às correntes artísticas mais estudadas naquele contexto. Além disso, à exceção de Di Cavalcanti e de Flávio de Carvalho, esse colecionismo modernista implantado por Zanini tinha uma relação direta com temas de pesquisa de seu interesse como historiador da arte, bem como fugiam a uma categorização mais tradicional da historiografia até então.”

Segundo Ana e Patrícia, cada um dos artistas expostos já foi contemplado por exposições e estudos sobre o Modernismo no Brasil. “Mas é no exercício de aproximar seus desenhos presentes no MAC que encontramos uma nova visada. Dos estudos para indumentária de Rego Monteiro até os projetos para azulejos de Zanini, interessa-nos compreender a complexidade desse conjunto, salientando a importância dele para o entendimento de uma experiência ampliada de modernidade no Brasil.”

A exposição Projetos para um Cotidiano Moderno no Brasil: 1920-1960, com  curadoria do Grupo de Pesquisa Narrativas da Arte do Século 20, fica em cartaz de terça-feira a domingo, das 11 às 19 horas, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP (Avenida Pedro Álvares Cabral, 1.301, Ibirapuera, em São Paulo. Grátis (é preciso agendar visita neste site). Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2648-0254. 


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