Professor da FFLCH analisa resultado das eleições em S. Paulo

Pela primeira vez, desde a implementação da eleição em dois turnos, um candidato a prefeito é eleito em primeiro turno na cidade de São Paulo

 03/10/2016 - Publicado há 8 anos

Acompanhe a entrevista do professor Gustavo Venturi, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP,  concedida ao jornalista Fabio Rubira e ao radialista Gilberto Rocha Jr:

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São Paulo não terá segundo turno para prefeito. O candidato João Doria (PSDB) foi eleito neste domingo (2/10), em primeiro turno, com 53,29 % dos votos, bem à frente do petista e atual prefeito Fernando Haddad, que ficou em segundo, com 16,70% dos votos válidos. Pela primeira vez, desde que se tem eleição em dois turnos, um candidato a prefeito é eleito em 1º turno em São Paulo.  No início desta curta campanha eleitoral,  que durou 45 dias,  Doria tinha somente 5% das intenções de voto, enquanto Celso Russomano (PRB) e Marta Suplicy (PMDB) apareciam à frente das pesquisas.

Movimento de eleitores durante a votação das eleições municipais 2016 - Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas
Movimento de eleitores durante a votação das eleições municipais 2016 – Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas

O professor Gustavo Venturi, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, atribui a vitória de Doria a uma campanha feita com maiores recursos, que conseguiu arrecadar mais a partir de contribuições do próprio candidato, aliada a uma coligação que  lhe deu um tempo maior de exposição na TV. Também pesou, na opinião do professor Venturi, o fato de ele ter sido bem-sucedido em construir sua estratégia em torno da imagem de ser um mero gestor em vez de um político. Ele teria conquistado pontos ainda ao galvanizar o sentimento antipolítico e antipetismo de boa parte do eleitorado.

Nestas eleições, também surpreendeu o grande número de votos brancos (361.471), nulos (788.379) e abstenções (1.940.454), que chegaram, no total (3.096.304), a superar a votação obtida  (3.085. 187) pelo candidato vencedor, fenômeno verificado não apenas em São Paulo como em vários outros pontos do País, “o que pode ser vinculado a um desencanto com a política” por parte dos eleitores.

Se, de um lado, a não realização do segundo turno satisfaz aquele eleitor para quem votar é sempre uma obrigação, de outro, impede o aprofundamento de propostas que fatalmente polarizariam a atenção da população como fruto dos debates que os dois candidatos certamente travariam na reta final da campanha. O resultado das eleições em São Paulo chama a atenção ainda para o desempenho do petista Fernando Haddad, considerado o pior entre prefeitos que buscaram a reeleição na capital desde 1998.

Campanha de conscientização do eleitor em relação às eleições municipais, organizada pelo Tribunal Regional Eleitoral na estação da Sé, região central - Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
TRE-SP incentiva eleitores a votarem de forma consciente – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Na opinião de Venturi, isso se deve ao desmantelamento, em nível nacional,  do PT e, de quebra, da esquerda, além das consequentes “dificuldades que o atual prefeito teve ao longo do seu mandato. Haddad praticamente carregou o peso da sigla em tempos de Lava Jato”. Seja como for, o resultado das eleições municipais em São Paulo deixa pouco espaço para qualquer análise mais abrangente em torno das eleições presidenciais de 2018. Para o professor Venturi, ainda é muito cedo para fazer qualquer análise, mas, de imediato, “quem sai fortalecido é o PSDB, em particular a figura de Geraldo Alckmin,  por ter bancado praticamente sozinho, inclusive no interior do partido, a candidatura de Doria, desacreditada e não desejada por muitos”.

Ao se referir ao PT, o professor acha prematuro afirmar qualquer coisa, mas admite que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda tem grande ascendência sobre grande parte do eleitorado. No entanto, uma eventual candidatura de Lula  à presidência da República em 2018 está vinculada aos desdobramentos dos processos contra o petista na Lava Jato. Quanto ao futuro do PMDB, diz o professor, está muito ligado ao governo Temer, atualmente abalado por um clamor popular que pede sua saída da presidência, “um clamor que é minoritário, mas bastante expressivo”. Já em relação a um espectro político colocado mais à esquerda, Venturi chama a atenção para o crescimento, ainda que tímido, do PSOL.

 


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