Obras da usina nuclear de Angra 3 serão retomadas sem solucionar a crise de energia

Na avaliação de José Goldemberg, energia nuclear é cara e demorará para ser implantada, por isso é mais viável investir em uma combinação de fontes renováveis

 26/07/2021 - Publicado há 3 anos
“Para concluí-la, mesmo que estivesse tudo certo, seriam necessários pelo menos cinco anos, ou seja, não é prioritário”, explica José Goldemberg – Foto: Agência Brasil

 

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O governo vai retomar as obras da usina nuclear Angra 3, investimento que pode chegar a R$ 15 bilhões. São mais de 30 anos de paralisação desde que começou a ser construída, em 1984, e uma dívida de R$ 9 bilhões em financiamentos com bancos públicos. Se ficar pronta, Angra 3 produzirá 1.200 kW, considerada uma usina de porte médio. Esse valor representa pouco acréscimo na produção brasileira.

Na avaliação de José Goldemberg, ex-reitor  da USP, pesquisador na área de energia e desenvolvimento sustentável e ex-secretário do Meio Ambiente, a construção de Angra 3 não contempla a necessidade atual, que é garantir o fornecimento de energia e o enfrentamento da crise hídrica. “Para concluí-la, mesmo que estivesse tudo certo, seriam necessários pelo menos cinco anos, ou seja, não é prioritário”, explica ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição

Goldemberg também comenta que a produção de energia em usinas nucleares é mais cara. Se comparada, por exemplo, a usinas eólicas e hidrelétricas, o valor da energia nuclear pode ser até duas vezes maior. “Esse é um problema no mundo todo, é por isso que a energia nuclear está perdendo espaço.”

O caminho imediato para evitar uma crise de fornecimento é acionar as usinas térmicas. Entretanto, o Brasil precisa importar o gás que será utilizado, o que deixa a energia mais cara. Segundo o professor, caso o problema se agrave, é possível que haja racionamento, ao contrário do que diz Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia, em suas declarações.

“As declarações do ministro têm sido de tranquilizar demais a população”, afirma. “Nós deveríamos entrar imediatamente em um sinal de alerta para as pessoas começarem efetivamente a economizar”, acrescenta.

A médio prazo, ou seja, aproximadamente dois anos, além do investimento em energia solar e eólica, Goldemberg aponta o melhor tratamento das usinas hidrelétricas como alternativa viável. “É inútil ter usinas hidrelétricas e não poupar água no período chuvoso”, afirma. A combinação dessas diferentes fontes garantirá o fornecimento de energia, mesmo quando faltar água.


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