“Atos contra o governo mostram que a paciência da população acabou” 

É no que acredita o colunista Renato Janine Ribeiro. Ele alerta, porém, que é difícil unir grupos políticos em uma pauta positiva

 23/06/2021 - Publicado há 3 anos
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Em sua coluna desta semana, o professor Renato Janine Ribeiro comenta que as recentes manifestações populares contra o governo federal trazem uma forte mensagem. Segundo ele, as manifestações contrárias ao presidente Jair Bolsonaro e contra sua condução no combate à pandemia mostram que as pessoas sentiram-se encorajadas em ir para as ruas – devido à vacinação -, tomando os cuidados necessários. “Essas pessoas sentiram que sua paciência tinha se esgotado e que, se o Brasil não reagir de maneira firme, o desastre será inevitável, podendo chegar a 1 milhão de mortos até o final do ano, o que seria devastador. Isso significa uma quantidade de mortos gigantesca”, assinala o colunista. “Está circulando nas redes sociais um vídeo que contrasta declarações dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer perante as mortes – às vezes dezenas, no máximo uma ou duas centenas de pessoas – em tragédias como a boate Kiss, o avião da TAM ou o avião da Chapecoense. Eles demonstraram seu pesar com essas mortes, sua compaixão. Mas o Brasil vê hoje morrerem, às vezes, cem pessoas em uma hora. Chegamos a 500 mil mortos, se não houver subnotificação, e não houve compaixão, nenhuma demonstração de solidariedade do atual presidente”, afirma Janine. “Mas ele não deixa de fazer suas festas, com motociclistas e outras pessoas. Então, penso que há um descontentamento que se expressa de maneira muito forte”, avalia o colunista.

Mas Renato Janine Ribeiro vê alguns problemas nessas manifestações. “Não é tanto o receio das pessoas se exporem em meio à pandemia, ou não é apenas isso, mas sim que aqueles que são contra as políticas do atual governo, principalmente no que se refere aos direitos humanos, à saúde, à educação e ao meio ambiente, estão ainda divididos pelo trauma de 2015 e 2016”, acredita Janine. “Uma parte, mais à esquerda, não tolera aquilo que chama de ‘golpe de Estado’ que destituiu a presidente Dilma por muito menos do que Bolsonaro fez. Outra parte não se arrepende do que fez na época, e procura o que chama de ‘terceira via’, que seria um candidato de esquerda ou de extrema-direita. E está muito difícil unir essas pessoas em uma pauta positiva”, afirma ele. “A pauta de combate às políticas do atual governo – pauta de luta pela vida, pela vacina, pelo distanciamento físico ou pelo auxílio-emergencial – é uma pauta que pode unir muita gente, mas que tem discrepância sobretudo no que diz respeito à política econômica. Há uma parte que apoia a política econômica de Temer e Bolsonaro, e há outra que desaprova, o que torna muito difícil a união desses dois segmentos. Resumindo, nós temos hoje três grupos políticos no Brasil: um grupo de extrema-direita, que apoia o atual governo; um grupo à direita, que se autodenomina ‘centro’ e que deseja políticas econômicas não tão distantes das do atual governo, mas com mais competência e que repudia a barbárie; e um terceiro, que é contra a barbárie, a favor da inclusão social e contra as políticas econômicas ditas neoliberais. Unir esses dois últimos grupos é difícil”, conclui o colunista.


Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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