Fumo e tratamento cirúrgico da gengiva – temos respostas concretas?

Mariana Schutzer Ragghianti Zangrando e Giovana Fuzeto Veronesi – FOB

 20/09/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 21/09/2016 as 18:24
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Mariana Schutzer Ragghianti Zangrando é professora de Periodontia na FOB- USP (Bauru) – Foto: Denise Guimarães/USP Imagens
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Giovana Fuzeto Veronesi é pós-graduanda em Periodontia na FOB-USP (Bauru) – Foto: Denise Guimarães/USP Imagens

 

O tratamento periodontal tem por objetivo principal devolver saúde à gengiva e outras estruturas de suporte dos dentes. A manutenção adequada da saúde gengival e periodontal permite o funcionamento efetivo da dentição, prevenindo a perda de dentes e influenciando positivamente no estado de saúde geral do paciente.

O tratamento periodontal é guiado basicamente por duas vias de mesma importância: a intervenção do dentista e a manutenção pelo próprio paciente. Os tratamentos realizados pelo profissional permitem que o paciente tenha condições de manter sua saúde gengival em casa, por meio de hábitos diários básicos de higiene bucal através do uso do fio e escovação regulares.

A doença periodontal pode apresentar sinais de inflamação, como sangramento ao escovar e passar fio, dor e mobilidade dental, além de mau hálito e um sabor desagradável na boca.

Há uma ampla gama de tratamentos disponíveis para serem realizados pelo periodontista. A realização da limpeza da superfície dental – também conhecida por raspagem – feita no consultório é uma etapa essencial e pode controlar a doença em algumas sessões. Porém, para alguns pacientes, apenas essa etapa “não invasiva” pode ser insuficiente na remissão de alguns locais que foram afetados de forma mais grave pela doença.

Há casos em que devem ser realizados procedimentos para prevenir e tratar deficiências deixadas no tecido, havendo necessidade da devolução do volume adequado de gengiva. Nesses casos, o tratamento cirúrgico pode ser indicado para devolução de uma anatomia biologicamente funcional e estética, além do tratamento com implantes, que vem crescendo exponencialmente como um bom substituto para dentes perdidos.

A doença periodontal pode apresentar sinais de inflamação, como sangramento ao escovar e passar fio, dor e mobilidade dental, além de mau hálito e um sabor desagradável na boca.

Alguns pacientes necessitam de um cuidado especial devido a um maior risco de desenvolver doenças periodontais, ou até mesmo de apresentar formas mais severas da doença. Existem muitas condições que podem influenciar a gravidade da doença periodontal. Dentre elas,  o fumo é uma das mais comuns e agressivas. Os tratamentos periodontais no geral apresentam maiores taxas de sucesso quando o paciente apresenta estas condições controladas. Para os procedimentos cirúrgicos em especial, é muito importante que o paciente fumante esteja empenhado em diminuir o consumo de tabaco e, consequentemente, parar de fumar para que o resultado seja satisfatório. Procedimentos cirúrgicos periodontais são muito delicados e o fumo é um agressor que afeta fortemente a resposta biológica e tecidual que acontece frente a uma cirurgia e no período de cicatrização.

O fumo pesado – consumo de mais de 20 cigarros por dia – tende a influenciar negativamente nos resultados de cirurgias. As principais alterações que o fumo causa na gengiva são o aumento de substâncias que favorecem a destruição e a diminuição da vascularização periférica. Ou seja, há um ambiente hostil com poucos vasos sanguíneos que transportem as células de defesa para combater as agressões. Assim, não há reparo ideal na região e o tecido sofre mais para conseguir se recuperar de forma saudável.

O fumo pesado – consumo de mais de 20 cigarros por dia – tende a influenciar negativamente nos resultados de cirurgias. As principais alterações que o fumo causa na gengiva são o aumento de substâncias que favorecem a destruição e a diminuição da vascularização periférica.

Estudos que avaliem de forma objetiva o período ideal em que o paciente fumante deve cessar o hábito de fumar antes e após o procedimento cirúrgico são escassos. Assim como estudos que avaliem e comparem os resultados cirúrgicos em pacientes que param de fumar exclusivamente para a cirurgia, geralmente de forma abrupta.

Mas o que se encontra na prática clínica é uma resposta negativa da recuperação tecidual com paradas súbitas do hábito de fumar. Especula-se que essa resposta pode ocorrer devido ao período de abstinência no qual o paciente se encontra, período que segue à cessação repentina do tabaco. O aumento do estresse pode ser um dos fatores contribuintes para essa resposta negativa. Apesar disso, não é uma regra que o paciente que para de fumar de repente vai obrigatoriamente apresentar um resultado indesejado. No entanto, já se sabe, ex-fumantes podem apresentar uma resposta igual a pacientes que nunca fumaram antes. Como a cessação satisfatória e efetiva pode demorar meses a anos, é recomendado que o aconselhamento da cessação do fumo seja feito o quanto antes. E para aqueles que fumam e irão se submeter ao procedimento cirúrgico, o ideal seria uma diminuição gradual no número de cigarros fumados.

Enquanto se aguarda um maior respaldo de estudos científicos, aconselha-se que pacientes que estão sob cuidados periodontais ou apresentem alguns dos sinais da doença periodontal, devem parar de fumar o quanto antes.

Além dos efeitos na saúde geral, benefícios específicos na condição de saúde bucal do paciente devem ser valorizados e esclarecidos. Quanto antes for iniciado o processo de diminuição do consumo do cigarro, até que chegue à cessação, maiores serão os benefícios biológicos e resultados dos tratamentos odontológicos.

 


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