Retórica incoerente com a realidade é estratégia do governo Bolsonaro

Segundo Pedro Luiz Côrtes, perante situações graves ou de crise, o governo tende a emitir declarações que contam uma versão diferente de algum fato ou minimizam o problema

 19/03/2021 - Publicado há 4 anos
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No Ministério da Saúde, no início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro reduziu a covid-19 a uma gripe – Foto: Fotos públicas

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Pedro Luiz Côrtes, professor associado da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), discute a incoerência retórica do Ministério do Meio Ambiente, amplamente difundida pelo governo federal.

Segundo o professor, há sempre uma tentativa do Executivo de recriar o passado, modificando a realidade. Normalmente, perante situações graves ou de crise, o governo tende a emitir declarações que contam uma versão diferente de algum fato ou minimizam o problema: “Por exemplo, quando o governo colocou a culpa dos incêndios na Amazônia nas ONGs e várias vezes tentou-se vender a ideia de que quem colocava fogo eram os índios e caboclos, que isso fazia parte de um processo natural de plantio. Mas o que justificaria de um ano para o outro um crescimento ao redor de 25% e 30% das áreas queimadas?”.

A minimização é uma estratégia discursiva adotada pelo governo. No Ministério da Saúde, no início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro reduziu a covid-19 a uma gripe e, desde o ano passado, tem promovido aglomerações e desincentivado o uso de máscaras. No Ministério do Meio Ambiente, a estratégia se repetiu, quando a maior autoridade nacional minimizou a crise ambiental na Amazônia e no Pantanal. “Essa estratégia que a gente verifica no Ministério da Saúde não é exclusividade, porque também se verifica no Ministério do Meio Ambiente”, afirma Côrtes.

Para o especialista, o governo ainda pode mudar a retórica. É possível que, em alguns momentos, discorra de forma condizente com a realidade, mas a tendência é sempre de retorno à minimização ou à dissonância: “Acredito que poderá ocorrer mudança em termos retóricos, tendo em vista a pressão do governo Biden em relação à preservação da Amazônia. É provável que, em função dessas pressões, o presidente Bolsonaro mude a retórica, mas não que isso signifique uma mudança de atitude de fato, ou seja, ele muda hoje, mas amanhã volta aos velhos hábitos”.


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