Exposição virtual revive a arte em tempos de pandemia

Até 16 de abril, mais de 100 alunos da USP e da Unesp mostram seus trabalhos em “2020 Not Found / Art Found”

 24/02/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 25/02/2021 as 10:05
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Site da exposição – Foto: Print/ Reprodução

 

A exposição virtual 2020 Not Found / Art Found reúne 50 produções artísticas de mais de 100 estudantes da USP e da Universidade Estadual Paulista (Unesp). As obras são resultado dos trabalhos artísticos desenvolvidos nas disciplinas da área de multimídia dos cursos de Artes Visuais do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e do Instituto de Artes (IA) da Unesp. A exposição estreou em 18 de dezembro e se encerrará em 16 de abril. Até lá, ao acessar o site da mostra, é possível conferir trabalhos interativos, poesias visuais, livros de artista, vídeos, gifs, animações, modelagem 3D, games, hipertextos e variações, que revivem a arte nos espaços de confinamento em meio à pandemia.

O projeto faz parte do evento Zonas de Compensação, realizado pelo Grupo Internacional e Interinstitucional de Pesquisa em Convergências entre Arte, Ciência e Tecnologia (Giip), coordenado pela professora Rosangella Leote, da Unesp, organizadora da exposição. Além dela, os outros organizadores são Priscila Guerra, Clayton Policarpo e Silvia Laurentiz, professores da ECA. Silvia é coordenadora do Grupo Realidades: das Realidades Tangíveis às Realidades Ontológicas e seus Correlatos, realizador do evento. Segundo ela, essa é a oportunidade de acessar trabalhos realizados durante a pandemia, dos quais muitos trazem reflexões sobre este momento que a sociedade vive.

A professora Silvia Laurentiz – Foto: ECA-USP

Com mais de 3,6 mil visualizações até o momento, segundo dados do Google Analytics – entre visitantes do Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Inglaterra, Canadá, México e Colômbia -, a exposição 2020 Not Found / Art Found  inova ao explorar os recursos digitais para a elaborar uma experiência artística que assume o formato on-line. Diferente das mostras presenciais, as obras não são fixas e ocupam diferentes locais em cada novo acesso à página. Ou seja, cada clique proporciona uma organização diferente dos trabalhos e uma nova forma de visitar a exposição. Silvia explica que o projeto curatorial foi desenvolvido a partir de uma estrutura em que tanto o conceito gráfico como a distribuição dos trabalhos no site são modificados de maneira aleatória para subverter os ditames dos “top 10” dos sites de busca e dos espaços físicos expositivos. “Foi criado um grid estrutural com algumas posições na tela de visualização, e a cada novo acesso na página a distribuição dos trabalhos e a posição na grade se alteram, criando uma dimensão fluida e dinâmica”, completa.

Além disso, o acervo está em constante crescimento, sujeito à incorporação de novas obras. Desde a inauguração, foram inseridos seis novos trabalhos, que não foram finalizados a tempo da abertura, mas comprovaram qualidade pelos organizadores. Assim que adicionados ao site, eles ainda ganham o mesmo destaque que as obras anteriores, pela aleatoriedade única da apresentação. Para Silvia, essa é uma das vantagens de uma exposição virtual.

Entre as obras expostas está Poesia Visual, de Lorena Weinketz, aluna do Curso Superior de Audiovisual da ECA, que convida o público a revisitar o poema Procura da Poesia, do escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade, sob outras perspectivas, que deslocam a ordem original do autor num vídeo de cerca de um minuto. A estrutura convencional da poesia é customizada, ao passo que as palavras, versos e estrofes, antes distantes do espectador, aproximam-se uma a uma, e de diferentes espaços, o que dá à leitura novos níveis de significação e interpretação. O videopoema conta ainda com o uso do estilo concretista na poesia e pensa na dimensão estética e espacial de cada palavra, ao passo que  aparecem e ultrapassam a tela. Em certo momento, é possível enxergar um formato de chave desenhada pelos versos, num jogo metalinguístico: “Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra/ e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?”.

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A obra <???> – Foto: Reprodução

Em relação ao isolamento social, muitas das produções discutem as relações com e no meio digital, que se viram amplificadas pela necessidade de comunicação remota, com o intenso uso de plataformas de videochamadas. Nesse tema, a produção dos estudantes da ECA Beatriz Camargo, Beatriz Costa, Elio Buoso e Nicolle Clara, intitulada <???>, simula o cenário de uma ligação por vídeo no Google Meets e expõe a perda de distinção entre espectador e agente de uma narrativa, no espaço virtual e abstrato. Segundo a descrição da obra, o trabalho coloca em questão a eficácia do uso de serviços de comunicação virtual como meio de sociabilização. Esse ambiente, fundamentalmente presente no cotidiano, aparece no trabalho como um lugar de não presença.

Distorções – Foto: Reprodução

Já o curta-metragem Distorções foi a primeira animação produzida pela aluna de Artes Visuais da ECA Carolina Freitas, desenvolvida nas disciplinas de Computação Gráfica e Prática de Multimídia e Intermídia I, ministradas pelos professores Priscila Guerra e Clayton Policarpo, respectivamente. O curta fala sobre o estranhamento de si e do mundo através da relação com a tecnologia e as redes sociais.

Ainda no campo das redes sociais, a obra 500 Mensagens de Whatsapp demonstra quanta informação pode se perder no caminho do envio de imagens no aplicativo de mensagens Whatsapp. Arthur Parisi, graduando de Artes Visuais da Unesp, tirou uma selfie, enviou pelo aplicativo, a salvou aumentada para o tamanho original e a enviou novamente. O processo foi repetido 500 vezes e exibido em vídeo que compara gradativamente cada novo envio com a original. O trabalho foi desenvolvido na disciplina Mídia VII – Arte em Rede, ministrada por Rosangella Leote.

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“Uma das coisas que aprendemos na pandemia foi romper limites físicos de espaços, de tempos e entre instituições.”

Vênus Copyright – Foto: Reprodução

Vênus Copyright também usa uma sequência de imagens, mas para questionar a manutenção e prevalência do conceito original de uma imagem que se encontra em alta circulação e reprodução na sociedade. Centralizada na pintura renascentista O Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli, a cada flash é exposta uma reprodução diferente do quadro, adaptado e modificado pelo contexto, desde pinturas a estampas de roupa, em que se esvazia a intencionalidade dentro das relações entre arte e mídia.

Outros trabalhos permitem a interação com o público. Um deles é Você Viu?, de Amanda Franco, Brígida Campos, Carolina Rentes, Isabela Ferreira e Nathalia Oliveira. O jogo de estética nostálgica convida o usuário a conhecer o Departamento de Artes Visuais da USP em meio a um misterioso desaparecimento de objetos. Como consta na descrição da obra, o jogo traz à tona a memória afetiva do espaço de que os autores hoje se encontram distantes por causa da pandemia. Janelas xd, dos estudantes Leticia Brasil, Maitê Miwa, Maria Carolina Freitas, Pamella Correia e Thiago Correa, da ECA, mergulha o visitante no computador criado a partir das lembranças dos autores sobre seus primeiros contatos com essas máquinas, no início dos anos 2000. “Aqui humor e distorções são usados para brincar com os usos específicos que as crianças faziam do computador da família, barreiras linguísticas que o inglês gerava enquanto engatinhávamos na tecnologia, como sua área de trabalho mostra sua identidade e como a cultura da internet e o ambiente da tecnologia são passageiros e estão sempre mudando”, esclarece o site.

De acordo com Silvia Laurentiz, uma das metas do seu projeto acadêmico é  trabalhar para estabelecer uma relação não apenas de aprendizagem convencional, mas de comprometimento com a formação, em que o conteúdo não seja apenas transmitido, mas elaborado em sala de aula e em atividades extraclasses. Daí a importância da promoção da exposição com os trabalhos dos graduandos. 

Silvia destaca que a conexão entre a USP e a Unesp é essencial. “Uma das coisas que aprendemos na pandemia foi  romper limites físicos de espaços, de tempos e entre instituições”, diz. Ela conta que seria muito mais complexo fazer uma conexão dessa dimensão em uma exposição física, mas foi possível graças a uma “rede de conexões, concentrando esforços, conhecimentos e rompendo limites tanto de espaços/tempos quanto institucionais”.

A exposição virtual 2020 Not Found / Art Found acontece até 16 de abril gratuitamente neste site


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