Festival de Gramado premia ex-alunos da USP

Dois curtas com participação de egressos da Escola de Comunicações e Artes ganham o Kikito

 14/10/2020 - Publicado há 4 anos
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O Kikito, troféu concedido no Festival de Gramado às melhores produções cinematográficas do Brasil – Foto: Reprodução

Ex-alunos do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP foram premiados no 48º Festival de Cinema de Gramado, em cerimônia realizada e transmitida pela internet no dia 26 de setembro. Os ganhadores dos Kikitos, prêmio máximo do festival, foram Vinícius Prado Martins e Ana Júlia Travia, ambos formados em Audiovisual pela ECA.

Cena do filme Receita de Caranguejo – Foto: Reprodução

Martins ganhou o troféu de Melhor Desenho de Som, em colaboração com Isadora Torres, pelo filme Receita de Caranguejo. O curta-metragem também rendeu um Prêmio Especial do Júri para a atriz Preta Ferreira. A ficção dirigida por Issis Valenzuela conta a história de Lari (Thais Melo), uma pré-adolescente que lida com a morte do pai e com a falta de diálogo com a mãe (Preta Ferreira), além de conviver com as primeiras transformações de seu corpo.

Esse foi o primeiro trabalho de desenho de som assinado por Martins. “Geralmente, fecho o corte na ilha de montagem e depois só acompanho o trabalho mais fino de edição de som e mixagem nos estúdios. Desta vez eu pude não só acompanhar, mas trabalhar pra valer no conceito sonoro do curta e na construção dos sons em todas as etapas”, afirma.

Vinícius Prado Martins, responsável pela montagem e desenho de som de Receita de Caranguejo: “Montagem e som estão profundamente relacionados” – Foto: Arquivo pessoal

Para ele, a produção propõe uma reflexão sobre a naturalidade da morte como parte de um ciclo. Ao mesmo tempo que Lari lida com a perda do pai, encara o início de uma nova fase, representada por sua primeira menstruação. Essa percepção é refletida no trabalho sonoro do filme, onde sons do ambiente são destacados entre o aparente silêncio e falta de diálogos entre as personagens. “Para mim, o som do luto é um ‘som da ausência’, de espaços silenciosos onde antes existiam outros sons. Mas é nesse aparente vazio que a gente começa a perceber novidades, detalhes que antes a gente não ouvia.”

Além do desenho de som, Martins fez a montagem do filme. “Entrei no processo muito cedo, desde a idealização. Isso porque a Issis Valenzuela é minha sócia na Tabuleiro, empresa produtora do filme. Acho que a experiência mostra mais uma vez como a montagem e o som estão profundamente relacionados. Enquanto montamos, é preciso sempre ‘ouvir a imagem e ver o som’ para explorar toda a potencialidade da narrativa audiovisual. Vejo o prêmio de Melhor Desenho de Som como um reflexo desse trabalho tão cuidadoso que Isadora Torres e eu dedicamos ao filme.”

Entregadores e pandemia

Cena do filme Você Tem Olhos Tristes – Foto: Reprodução

Ana Júlia Travia venceu na categoria Melhor Montagem com seu trabalho em Você Tem Olhos Tristes, filme de Diogo Leite que conta a história de Luan (Daniel Veiga) e seu cotidiano como entregador por aplicativos. Segundo a editora, a narrativa foi concebida antes da pandemia, a partir da observação do diretor sobre a vida desses profissionais, e inspirada pelas obras do sociólogo Jessé Souza, mas ganhou ainda mais relevância com o avanço da covid-19. “Eu acho que o Diogo sentiu o Zeitgeist (espírito do tempo), como disse o ator do filme. Ele quis abordar esse assunto, começou a pandemia, e os entregadores ganharam mais importância na nossa sociedade, principalmente nos primeiros meses”, conta.

Ana Júlia também comenta sobre o processo de montagem do filme, que teve sete versões no total. Para ela, apesar de ressaltar a importância do roteiro, o filme ainda é reescrito no processo de montagem, visualizando “cena a cena, take a take”. Ela afirma ainda que o trabalho com o diretor, que se mostrou aberto para as mudanças propostas, foi muito importante e cooperativo.

Ana Júlia Travia, premiada pela montagem de Você Tem Olhos Tristes – Foto: Adriana Hipólito

“Eu aceitei montar porque pensei: ‘Isso é muito bom, muito original, tem vida e cor’. Um bom filme é, realmente, uma parte da vida de uma pessoa, e eu acho que essa é a sensação que eu tive lendo o roteiro. A montagem traz ritmo e fluidez para essa história. Seu trabalho é colocar sequência, entender se essa história é assim mesmo”, relata a editora ao contar que a equipe trabalhou gratuitamente na produção do filme, encantada pela proposta de Leite.

Sobre o prêmio de Melhor Montagem, Ana Júlia diz que ganhar uma estatueta fez com que ela sentisse que seu esforço não foi em vão. “É um reconhecimento da minha trajetória também, não só desse projeto. Principalmente no Festival de Gramado, que é muito antigo e importante. Eu já conhecia esse festival antes de entrar na ECA e agora estou sendo reconhecida por ele, é muito bacana.”

 

Filme de ex-aluna da USP ganha menção honrosa no É Tudo Verdade

Amanda Carvalho, ex-aluna do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – Foto: Reprodução

O filme Ver a China ganhou Menção Honrosa na categoria Melhor Curta-Metragem da Competição Brasileira na 25ª edição do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários. O curta é o trabalho de conclusão do Curso Superior de Audiovisual de Amanda Carvalho, ex-aluna do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

Concluído no início de 2019, o trabalho é um documentário de 30 minutos que relata a experiência de Amanda em um intercâmbio na China, convidada para fazer um filme sobre a produção de chá em Fujian. A viagem foi proporcionada pelo programa Looking China Youth Film Project, da Universidade Normal de Pequim, em parceria com o Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA. A jovem relata ter passado menos de 20 dias no país para produzir o filme sobre chás, desafio que se somou à limitação comunicacional com os chineses.

Cena do filme Ver a China – Foto: Reprodução

Voltei para o Brasil ainda instigada por essa experiência e, no meio de 2018, comecei a executar esse filme (Ver a China), que também usava o material filmado na viagem”, conta Amanda. Apesar de acreditar no valor da produção, ela relata que poder participar do É Tudo Verdade foi uma grande surpresa. “A menção honrosa foi a cereja do bolo, mas estar ali dividindo o festival com outros realizadores, mesmo que on-line, já foi muito importante.”


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