Conflito entre Armênia e Azerbaijão teve participação decisiva da Turquia

Para Paulo Borba Casella é preocupante que a pressão da Turquia, com suas mãos manchadas de sangue, tenha ajudado a ofensiva do Azerbaijão

 02/12/2020 - Publicado há 4 anos
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Recentemente, estourou um conflito armado que deixou mais de 2 mil mortos na Ásia, envolvendo Armênia e Azerbaijão. Ambos lutaram pelo controle do território Nagorno-Karabakh, o qual tem maioria étnica e cultural armênia, mas geograficamente pertence aos azeris, que são como os nativos do Azerbaijão são chamados. Um acordo de paz mediado pela Rússia foi assinado pelo primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, e o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev.

O acordo, que significou vitória militar dos azeris, gerou revolta por parte da população armênia. Enquanto saíam antes da chegada dos soldados adversários, muitos armênios de Nagorno-Karabakh queimaram suas casas como forma de protesto contra o acordo de paz e contra a tomada do território pelo Azerbaijão. O professor de Direito Internacional da Faculdade de Direito da USP e coordenador do Grupo de Estudos sobre a Proteção Internacional de Minorias, Paulo Borba Casella, destaca uma participação decisiva no conflito, a da Turquia: “É preocupante que a pressão da Turquia, com suas mãos manchadas de sangue, tenha ajudado a ofensiva do Azerbaijão”.

Mas esse conflito não é de hoje. Um primeiro conflito ocorreu entre os países anos atrás, como explica Casella. Pontua que os países faziam parte da União Soviética, a qual controlava o conflito étnico entre eles, mas, “com o fim da União Soviética, eclodiu a guerra” em 1991, quando a Armênia conseguiu manter o controle do território. “Embora continuasse parte do Azerbaijão, havia um estatuto especial.”

Arthur Haroyan é nativo da Armênia e viveu lá enquanto acontecia a guerra de 1991. Atualmente residente no Brasil e fã das novelas brasileiras, ele dá um depoimento sobre sua vivência do conflito: “A gente chama aquela época de época de escuridão, época de fome. A gente esperava a frase ‘guerra acabou’, e não chegava essa frase”. 

Para Haroyan, a Rússia, aliada militar da Armênia, poderia interferir no conflito, mas se omitiu ao apoiar o acordo de cessar-fogo com o Azerbaijão. Ele explica a situação dos armênios de Nagorno-Karabakh após o conflito: “Mais de 80 mil refugiados estão indo para a Armênia. Isso é uma tragédia não só do povo armênio, mas da humanidade”. Haroyan ainda tem amigos e familiares que vivem na Armênia e destaca que a união entre a população foi essencial durante o conflito atual, em que houve doações em massa de roupas, alimentos e sangue. “Para Azerbaijão, são apenas territórios. Para nós, é a nossa pátria, são nossas igrejas que foram construídas durante muitos séculos, é a nossa história.”


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