Dispositivo portátil criado por pesquisadores brasileiros detecta o coronavírus em tempo real

Equipamento usa biossensores avançados com nanocompósitos de óxido de grafeno para detectar o SARS-CoV-2. Além de ajudar no monitoramento da covid no Brasil, poderá ser útil em outras doenças

 05/11/2020 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 06/11/2020 as 20:40
Biossensor e interface de bancada que estão sendo utilizados para o desenvolvimento da plataforma GRAPH Covid-19 – Foto: Divulgação

O teste rápido é uma ferramenta fundamental no combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus no Brasil. Para contribuir com este monitoramento, pesquisadores desenvolveram um dispositivo portátil capaz de detectar o SARS-CoV-2, com análises em tempo real: o GRAPH Covid-19. Com rapidez, precisão de resultados e portabilidade, o novo produto pode contribuir de modo significativo na batalha contra este vírus e também no controle de outros tipos de doenças. O dispositivo foi desenvolvido na Biosintesis, empresa de pesquisa, desenvolvimento e inovação, e residente na Incubadora USP/IPEN-Cietec.

A solução

O GRAPH Covid-19 é uma plataforma de Diagnostic On a Chip (DoC) baseada na tecnologia inovadora de biossensores avançados com nanocompósitos de óxido de grafeno.

Uma das vantagens é que a plataforma de diagnóstico GRAPH usa baixo volume de amostra biológica – como, por exemplo, uma gota de sangue -, sendo capaz de detectar e monitorar diversas doenças, tendo como prioridade testar a infecção por SARS-CoV-2. Além disso, o dispositivo terá produção nacional, dispensando a necessidade de importação de insumos e possibilitando alta escala de produção para atender rapidamente à demanda diagnóstica em todo o País.

Atualmente, os testes rápidos importados são realizados por imunocromatografia, método de baixa acuracidade (exatidão) e que traz grande preocupação com resultados falso-negativos. Por isso, a chegada de biossensores como plataforma diagnóstica no setor clínico é uma evolução tecnológica, com grandes vantagens frente às soluções disponíveis.

Diagrama de funcionamento do GRAPH Covid-19 – Foto: Divulgação

De acordo com Fabiana Medeiros, doutora em Biotecnologia pelo Programa de Tecnologia Nuclear do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) da USP e sócia-fundadora da Biosintesis, os biossensores avançados associados a nanocompósitos de óxido de grafeno podem ser usados para diagnóstico em tempo real e monitoramento de diversas doenças.

“Esta tecnologia traz benefícios significativos em relação a metodologias analíticas convencionais, tais como rapidez, alta sensibilidade e especificidade. Sua portabilidade permite diagnosticar o SARS-CoV-2 em qualquer local: postos do SUS, unidades de saúde, drive through, regiões remotas e até no controle de portos e aeroportos”

“Os biossensores, quando aplicados em saúde, podem também detectar os diferentes tipos de biomarcadores prognósticos e diagnósticos associados ao câncer, diabete, Alzheimer, infecções virais (zika, dengue, chikungunya, etc.) e bacterianas, assim como vários tipos de técnicas de sensoriamento eletroquímico utilizadas para a detecção precoce de potenciais biomarcadores para essas doenças”, explica Fabiana.

Diferenciais do equipamento 

O equipamento necessita apenas de pouca quantidade de sangue para detectar e monitorar diversas doenças, entre elas a covid-19 – Foto: Divulgação

O GRAPH Covid-19 apresenta alguns diferenciais. É o método mais rápido disponível no mercado, com resultados em menos de um minuto; não necessita de laboratórios de biossegurança e também não precisa de mão de obra especializada para sua análise. Além disso, o equipamento é totalmente portátil e não necessita de um ponto de energia, internet ou estrutural laboratorial.

É um equipamento que trará muitos benefícios ao monitoramento da pandemia no Brasil, além de apresentar potencial de exportação de tecnologia para outros países. A expectativa é que haja uma redução de custo em torno de 25% em comparação aos testes atuais.

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De acordo com Fabiana, estão previstas negociações futuras com as esferas governamentais para oferecer o equipamento a hospitais e postos de saúde. “Somos uma empresa participante do movimento Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), e ficamos em 7º lugar no Concurso Emergencial Covid-19 nº 002/2020 da ABDI/CNI, para a redução dos impactos da pandemia de covid-19 nas áreas de cidades, bairros e conglomerados urbanos brasileiros com população vulnerável. Por esta iniciativa, e especialmente pela parceria com o IPEN, negociações com as esferas municipal, estadual e federal são um dos principais focos do projeto”, destaca.

O funcionamento básico do equipamento em laboratório já foi comprovado. No momento, os responsáveis pelo GRAPH Covid-19 estão trabalhando na validação de diagnóstico do SARS-CoV-2. “Esperamos ter resultados mais robustos no primeiro trimestre de 2021 e, naturalmente, o SUS [Sistema Único de Saúde] será o principal foco de atuação desta tecnologia.”

Segundo Fabiana, é esperado que os biossensores custem em torno de R$ 155,00 em escala de produção. Essa produção em escala está prevista para acontecer a partir do registro da plataforma GRAPH na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Já sobre a previsão de quando o equipamento chegará ao mercado, a expectativa é que os testes sejam iniciados com os primeiros protótipos em laboratórios e unidades de saúde em seis meses.

Parcerias

Sob coordenação da Biosintesis, empresa residente na Incubadora USP/IPEN-Cietec, o projeto tem parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Conta com a participação de uma equipe de pesquisadores multidisciplinares, composta de quatro diferentes Centros de Pesquisas:  Biotecnologia (CEBIO), Ciência e Tecnologia de Materiais (CCTM), Combustível Nuclear (CECON) e Tecnologia das Radiações (CETER).

“Com a pandemia, as empresas e o governo estão ampliando os investimentos em projetos de inovação e automação de empresas, principalmente para produção de equipamentos hospitalares que podem ser usados no combate ao novo coronavírus. O momento é oportuno para startups voltadas à saúde, como a Biosintesis, que está trazendo sua importante contribuição, por meio da criação deste dispositivo inovador”, afirma Sergio Risola, diretor-executivo do Cietec.

Com foco no desenvolvimento de soluções para apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS), o IPEN/CNEN tem incentivado e apoiado vários projetos de pesquisa na prevenção e no combate à covid-19, os quais têm caráter inovador e propõem soluções criativas para o enfrentamento aos desafios desse momento de crise no País. “Muitas dessas pesquisas têm se revelado um sucesso, este é o caso da Biosintesis, que conta com a colaboração de pesquisadores de vários Centros de Pesquisa do IPEN, os quais, com suas expertises, têm dado grande contribuição para o sucesso do projeto. Esses recursos humanos altamente qualificados são motivo de muito orgulho para a nossa instituição”, avalia Isolda Costa, diretora de Pesquisa, Ensino e Desenvolvimento do IPEN.

Sobre o Biosintesis 

Em operação desde 2008, o laboratório Biosintesis atua em duas frentes centrais de trabalho: pesquisa, desenvolvimento, inovação: desenvolvimento de novos materiais, engenharia de tecidos e testes/protocolos in vitro; e prestação de serviços para P&D e registro de produtos, atendendo a cinco áreas principais: dispositivos médicos e odontológicos, farmacêutica, puericultura e cosméticos.

Sobre o IPEN

Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) é uma autarquia vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do governo do Estado de São Paulo e gerida técnica e administrativamente pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) do governo federal.

Com destacada atuação na área nuclear, proporcionando avanços significativos no domínio de tecnologias, na produção de materiais e na prestação de serviços de valor econômico e estratégico para o País, o IPEN/CNEN também é excelência na formação de recursos humanos, no âmbito de seu Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Nuclear associado à USP.

Sobre o Cietec

O Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), fundado em abril de 1998, tem como missão incentivar o empreendedorismo e a inovação tecnológica por meio da criação, fortalecimento e a consolidação de empresas de base tecnológica. O Cietec apoia a transformação de conhecimento em produtos e serviços para o mercado, a inserção no ecossistema de inovação, a capacitação técnica e de comercialização, contribuindo para o aumento da competitividade no Brasil.

O Cietec é a entidade gestora da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica USP/IPEN, onde são conduzidos processos de incubação de empresas inovadoras, em diferentes níveis de maturidade. Nesses processos, são oferecidos serviços de apoio para demandas nas áreas de gestão tecnológica, empresarial e mercadológica, aproximação com o investimento-anjo, capital semente e venture capital, recursos de fomento público, além de infraestrutura física para a instalação e operação dessas empresas.

Com informações de Trama Comunicações 

 


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