Campanha nacional quer aumentar a cobertura vacinal e conscientizar a população sobre a importância da imunização

Neste sábado, 17 de outubro, unidades de saúde de todo o País estarão abertas para vacinação contra a poliomielite e outras vacinas que estiverem em atraso, mas a campanha vai até o final do mês

 15/10/2020 - Publicado há 4 anos
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Das nove vacinas indicadas para bebês ou crianças, oito não atingiram a meta para cobrir de 90% a 95% da população em 2019, um dos piores índices de vacinação do século, segundo dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Entre o descrédito à ciência e movimentos contrários à vacina, o País segue na luta para manter a cobertura vacinal em dia com campanha de multivacinação, especialmente contra a poliomielite, que acontece neste sábado, 17 de outubro, das 8 às 17 horas, em todas as unidades de saúde do País. Em Ribeirão Preto as unidades de saúde com salas de vacinação podem ser conferidas aqui.

A especialista em vacinas e imunobiológicos Maria Célia Cervi, professora do Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, conta que esse é o “dia D”, conhecido como Dia Nacional da Vacinação, de um projeto de conscientização promovido pelo Ministério da Saúde, que acontece de 5 a 30 de outubro, para alertar a população sobre a importância das vacinas. Durante este período, unidades de saúde se dedicam a atender todos aqueles que estiverem com vacinas em atraso, independente da idade.

Segundo a especialista, essa também é uma tentativa para manter o índice de cobertura vacinal acima de 90%, números indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para Maria Célia, a queda da procura por vacinas ocorreu devido à ação de grupos antivacina, à mudança do comportamento da população em relação aos serviços de saúde e ao medo dos efeitos colaterais. “Ao longo do século passado e no início deste, com o controle das doenças, passou-se a ter medo do efeito adverso que em um ou outro paciente poderia acontecer. Podem ocorrer reações, mas a maior parte é benigna. São muito raros os efeitos adversos graves de vacinas. Mas isso trouxe uma insegurança, uma vez que as doenças não estavam mais prevalentes.”

Entre os efeitos colaterais das vacinas estão: dor local, picos de febre, quadros respiratórios leves e manchinhas pelo corpo. Essas reações, diz a professora, acontecem porque a vacina é feita a partir de um agente viral ou por bactérias que atingem o sistema de defesa para estimular a produção de anticorpos e células defensoras para então nos proteger da infecção que seria adquirida naturalmente. “Ela vai mexer com nosso sistema inflamatório e imunológico, mas raramente vai ocorrer uma doença que dure dias e que tenha uma manifestação neurológica grave, isso é raríssimo”, afirma.

A professora conta ainda que existe um rigoroso controle por trás do processo de produção de vacinas, que analisa todos os efeitos, antes da liberação do produto, e lembra que assistimos a essa análise agora, durante a busca pela vacina para o novo coronavírus. “Vocês estão vendo o número de fases, a inoculação em animais, a inoculação em poucas pessoas, a inoculação em mais pessoas. Nesse monitoramento, quando há um efeito colateral, é suspendida aquela fase do estudo para rever todo o protocolo e depois dar a continuidade, como está sendo feito.”

Falsas notícias estão presentes desde a primeira vacina inventada

Porém, mesmo com o controle e as afirmações da ciência em relação à segurança, ainda existe hesitação em se vacinar, o que em 2019 entrou para a lista das dez ameaças à saúde mundial, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Ainda segundo a pasta, a cobertura vacinal evita de 2 a 3 milhões de mortes por ano, e outro 1,5 milhão poderia ser evitado se ela fosse melhorada no mundo.

Porém, para aumentar a cobertura vacinal, é preciso combater as falsas informações que acompanham as campanhas desde a primeira vacina, inventada em 1796 por Edward Jenner, como conta a pesquisadora Nathália Pereira da Silva Leite, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP: “A primeira vacina foi a da varíola e consistia em utilizar o vírus dessa doença em bovinos contra a sua forma em humanos. Muitos boatos surgiram, como a capacidade dessa vacina dar fisionomia de vaca para as pessoas”.

A pesquisadora conta que os grupos contra vacinas passaram a crescer desde então e ganharam força após a imposição da obrigatoriedade da vacinação. Afirma que outro fato que impulsionou os antivacinas foi um artigo publicado pelo médico Andrew Wakefield, em 1998, na revista The Lancet, sobre a hipótese da vacina tríplice viral estar ligada ao autismo, mas “foram feitos vários outros estudos, inclusive até com 600 mil crianças, mas nenhum chegou ao mesmo resultado. Foi descoberto que ele estava tentando patentear sua própria vacina para a tríplice, então queria tirar a outra do mercado”.

Atualmente, conta Nathália, o movimento vem se fortalecendo por meio da democratização da internet e da informação, que possibilita as falsas notícias sobre as vacinas ganharem um alcance maior. Para Wasim Syed, diretor do projeto de divulgação científica Vidya Academics e aluno da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, é preciso combater o fluxo de informação entre esses usuários com conteúdos pró-vacina. Afirma que “a informação correta deve tomar mais espaço nas redes sociais do que a desinformação antivacina. É importante que a gente conheça esses números para saber a magnitude do movimento e como atuar”.

Ouça no player acima a entrevista completa da professora Maria Célia Cervi, da pesquisadora Nathália Pereira da Silva Leite e do aluno Wasin Sayed ao Jornal da USP no Ar – Edição Regional. 

Leia mais sobre a campanha de vacinação durante o mês de outubro aqui.

 


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