Microplásticos na atmosfera podem afetar sistema respiratório

Segundo o pesquisador Luís Fernando Amato, as partículas de microplástico têm a capacidade de absorver poluentes do ar, além de compostos orgânicos, o que pode afetar a saúde pulmonar

 26/08/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 07/10/2020 as 15:45
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O Jornal da USP no Ar recebeu hoje (26) Luís Fernando Amato, que realiza pesquisa de pós-doutorado no grupo Cidades Globais, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, e também no Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina (FM) da USP, para tratar de seu atual estudo sobre a presença de microplásticos no ar em áreas urbanizadas e os possíveis efeitos à saúde pulmonar humana. 

Antes de falar sobre os microplásticos, Amato explica que o plástico é um material polimérico, do qual existem, hoje, mais de 5 mil tipos, todos com uma grande quantidade de aditivos químicos que dão as características e propriedades a cada um desses tipos. Esse material, quando não jogado fora corretamente, fica livre no meio ambiente e, após uma série de processos químicos e biológicos, sofre uma alteração estrutural, sendo fragmentado em partículas cada vez menores. As partículas menores de 5 milímetros  são classificadas como microplásticos. 

“Essas partículas no meio ambiente têm uma característica diferente daquelas já produzidas em tamanhos muito pequenos. Os microplásticos absorvem alguns poluentes do ar, como os que saem de escapamentos de automóveis. Compostos orgânicos podem também se ligar a essas partículas, o que as tornam uma espécie de substrato para vírus e bactérias, que formam uma espécie de biofilme. Com a possibilidade de inalarmos essas partículas, a nossa saúde pode ser afetada”, explica o pesquisador. 

O primeiros estudos sobre o microplásticos são de 2015, bastante recentes. Realizados primeiramente na região da Grande Paris, na França, os estudos mostraram que na região são depositadas cerca de 300 partículas por metro quadrado por dia. “Se somarmos por ano, é uma quantidade gigantesca de partículas que, com a ação da atmosfera dos ventos, entram de novo em suspensão”, aponta. 

Os estudos de Amato têm sido conduzidos na FMUSP, na região da Avenida Doutor Arnaldo, e é dividido em duas etapas. Na primeira, há a coleta de material particulado no ar, em ambientes internos e externos. “A intenção é caracterizar a quantidade de plástico que é depositado por dia e o tipo de partícula, a composição química. Isso porque o formato é bastante importante quando se fala em efeitos na saúde, como no caso da fibra plástica, que alcança regiões mais profundas do sistema respiratório”, explica Amato. “Caso fique presa, por exemplo, a partícula começa a ocasionar uma série de processos inflamatórios, como a formação de granulomas e, em último caso, fibroses.”

A segunda parte do projeto consiste na investigação por partículas de plástico em fragmentos coletados de pulmões, gânglios e linfonodos na região do pulmão. Amato explica que esse é um estudo difícil por existirem diversos protocolos para que não ocorra uma contaminação cruzada, já que, como buscam por partículas de plástico, os materiais usados no armazenamento e na instrumentação dos laboratórios não podem ser poliméricos. 

O pesquisador finaliza, afirmando a necessidade de se repensar o uso do plástico. “Existe uma quantidade muito grande de produtos que contêm plásticos com uso único, por cerca de alguns segundos, como um copinho plástico. Há um processo de produção, de uso de energia e matéria-prima, mas que rapidamente torna-se um resíduo. Quando não acaba em aterros sanitários, já lotados, esse resíduo tem um destino impróprio e se torna microplástico no meio ambiente.”

Ouça a íntegra da entrevista no player.


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