A importância da saúde mental vem sendo cada vez mais compreendida e discutida pela sociedade, especialmente neste momento de tantas dificuldades e transformações causadas pela pandemia do novo coronavírus. A automutilação, também conhecida pela palavra inglesa cutting, que significa corte, em inglês, é um dos transtornos emocionais que necessitam de mais atenção durante o isolamento social.
Segundo o psicólogo Lucas dos Santos Lotério, mestre em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, a automutilação é caracterizada por indivíduos que se cortam em alguma parte do corpo, para obter alívio de uma dor psíquica ou emocional muito intensa.
Lotério explica que o distúrbio pode ser causado por diversos problemas, como a depressão, abusos, bullying, luto, entre outros; é “consequência de um sofrimento interno muito grande, que pode ser causado por uma doença psicológica ou não. O principal ponto é que o comportamento acaba se tornando um vício, já que proporciona um alívio físico imediato para uma dor emocional extremamente forte”.
O problema é mais comum entre os adolescentes, afirma o psicólogo, já que é uma faixa etária cheia de conflitos internos, sentimentos novos e mudanças hormonais. Por conta disso, Lotério alerta para que a família fique atenta e ofereça ajuda sem julgamentos, principalmente neste período de isolamento social em que o quadro de automutilação pode se intensificar. “A quarentena e a tensão provocadas pela pandemia podem agravar o comportamento, principalmente entre os adolescentes que estão privados do convívio social que tanto gostam.”
Lotério chama a atenção para a importância do apoio familiar e da psicoterapia durante esse período. “Conversar e ouvir abrem portas para que o indivíduo se sinta confortável e divida suas aflições, o que pode ajudar a aliviar suas dores internas. Além disso, psicólogos continuam a atender durante a quarentena, de forma on-line, e estimular a pessoa a procurar ajuda é extremamente importante.”
A automutilação pode ser um dos sintomas da depressão, porém o diagnóstico deve ser feito por um profissional da psiquiatria. O tratamento deve ser feito através de acompanhamento psicológico e, dependendo da gravidade do quadro, também com apoio medicamentoso, que só pode ser receitado por um médico psiquiatra. O psicólogo lembra que a automedicação pode ser até mais prejudicial que a própria automutilação.
Ouça a entrevista completa do psicólogo Lucas dos Santos Lotério ao Jornal da USP no Ar – Edição Regional no player acima.