Temperatura no Sudeste do País aumentou devido a gases-estufa

Resultados do estudo, que é inédito na América do Sul, reforçam o andamento das mudanças climáticas

 21/07/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 29/07/2020 as 12:13
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Pesquisa do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas constatou que o aumento de 1,1º Celsius (C) na temperatura do Sudeste foi predominantemente causado pelo efeito estufa antropogênico (de origem humana) – Foto: Fernanda Carvalho via Fotos Públicas

Um estudo realizado no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP constatou que houve um aumento de 1,1º Celsius (C) na temperatura do Sudeste do Brasil entre os anos de 1955 e 2004 causado dominantemente pelos gases de efeito estufa. A pesquisa traz como novidade a análise de variação da temperatura de um local específico do mundo, neste caso o Sudeste brasileiro. As medições de temperatura feitas por órgãos internacionais calculam um valor para o mundo todo, porém regionalmente/localmente esse número pode ser diferente. O estudo é inédito na América do Sul, e os resultados foram publicados na revista científica Geophysical Research Letters.

De acordo com o professor Humberto Ribeiro da Rocha, orientador da pesquisa de doutorado, “os resultados vêm para corroborar que as mudanças climáticas estão em andamento, a despeito do momento atual ainda suscitar dúvidas sobre isso e de vários brasileiros questionarem até hoje”.

O aumento da temperatura no Sudeste foi atribuído aos gases de efeito estufa emitidos pelo ser humano predominantemente. Esse resultado teve origem na análise de 34 modelos através de um método estatístico. De acordo com Rocha, os modelos utilizados foram os mesmos usados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) para análises globais/continentais.   

Geralmente, os modelos de sistema climático do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas não captam efeitos locais. O diferencial da pesquisa foi analisar especificamente os motivos de aumento da temperatura no Sudeste do Brasil – Foto: Giselle Garcia via Agência Brasil

Rafael Cesário de Abreu, formado em Meteorologia pelo IAG e autor da pesquisa, explica que foram feitas simulações da temperatura do Sudeste entre 1955 e 2004 levando-se em conta apenas o efeito de três forçantes, separadamente, sendo elas: causas naturais, efeito estufa antropogênico (causado pelo ser humano) e outros aerossóis. 

A partir da metodologia estatística, as temperaturas geradas pelas simulações foram comparadas às medições de temperatura feitas no Sudeste, obtidas por meio de uma média entre várias estações de medição. Dentre as três tendências, a variação de temperatura causada predominantemente pelo efeito estufa antropogênico foi a que mais se aproximou da variação observada no Sudeste.

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De acordo com Abreu, é possível observar no globo inteiro o aumento de temperatura em função dos gases-estufa, entretanto, com este estudo, também é possível enxergar que esse efeito é muito significativo em pequenas regiões, como é o caso do Sudeste. “Esse aumento é cada vez mais observado em escalas mais localizadas e isso é bem importante para a atividade humana”, explica. 

De acordo com o orientador da pesquisa, existem outros fatores locais que impactam a temperatura. “A urbanização é um forte vetor de aquecimento que ajuda a amplificar esse aumento de temperatura, além do desmatamento”, exemplifica. 

Como perspectiva futura, o pesquisador conta que tem como objetivo fazer uma análise dos efeitos locais como a mudança no uso do solo e a urbanização. Houve, ao longo de décadas, uma expansão urbana em São Paulo e outras metrópoles no Sudeste, e uma grande mudança na forma como o solo é utilizado. Além disso, florestas foram transformadas em áreas agricultáveis, por exemplo. Todos esses fatores locais influenciam a variações de temperatura. 

“Chegamos a um número relacionado ao efeito estufa, mas não conseguimos atribuir direito essa variabilidade que é um pouco mais localizada. Queremos tentar separar essas outras forçantes para ver suas contribuições”, comenta Abreu.  

Rocha ainda complementa explicando que esses efeitos locais, geralmente, não são capturados pelos modelos do IPCC, que fazem simulações de maneira global. 

Mais informações: e-mail humberto.rocha@iag.usp.br, com Humberto Rocha; e rafael.abreu@iag.usp.br, com Rafael Abreu

atualizado em 29/07/2020 às 12h12


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