Escolha de pacientes para a UTI deve ser baseada no estado de gravidade do paciente

Reinaldo Ayer destaca que a seleção dos pacientes é criteriosa e baseada em protocolos que levam em conta, também, a dignidade humana

 27/05/2020 - Publicado há 4 anos

O aumento de casos graves da covid-19 no Brasil e o excesso de demanda vêm interferindo na ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) nos hospitais. Muitas cidades já enfrentam superlotação e proximidade do limite máximo de internações, tornando criteriosa a escolha dos pacientes que ocuparão as poucas vagas disponíveis. Devendo seguir o protocolo de ética médica, são vários os requisitos que os médicos utilizam para essa difícil e importante escolha.

Quem fala sobre o assunto ao Jornal da USP no Ar é Reinaldo Ayer, professor de Ética Médica e Bioética no Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina (FM) da USP. Ele relata que o sistema de saúde, em diversos países, estava despreparado para o número excessivo de pacientes nos hospitais, tornando difícil o gerenciamento de vagas de internações, e enfatiza que os protocolos de ética são específicos e variantes. “Os protocolos são diferentes, por exemplo, no Hospital das Clínicas e em um hospital de uma cidade do interior, pois se leva em consideração as condições locais de atendimento.”

De acordo com o professor, o principal ponto levado em consideração pelos protocolos é a dignidade da pessoa humana. Outro lado na escolha de quem ocupará uma restrita vaga é a gravidade do quadro clínico do paciente e as possibilidades de tratamento. Protocolos mais abrangentes, como o da Associação Brasileira de Medicina Intensiva (Amib), tratam a questão dividindo em dois importantes aspectos: triagem e terapia intensiva em si.

“O que mais se destaca na seleção para receber tratamento adequado é o quadro clínico com possibilidade do paciente em superar o problema de saúde e ter alta”, explica Ayer. Isso quer dizer que não necessariamente uma pessoa jovem será escolhida para encaminhamento à UTI, em detrimento de uma pessoa idosa. Se o jovem estiver com mais debilidade e a pessoa idosa possuir mais chances de recuperação, será escolhido aquele que pode receber alta com sucesso de tratamento.

Esses critérios de escolha já existiam e hoje eles estão sendo melhorados para designar o tratamento de forma objetiva, sem que haja um grau de subjetividade na decisão com a interpessoalidade. No Rio de Janeiro, um hospital público já utiliza um sistema que usa dados dos pacientes e classifica a prioridade de atendimento, retirando de certa forma a obrigatoriedade de decisão do médico. “Em um hospital em que há a possibilidade do sistema de triagem e UTIs, essa situação é a mais confortável. Mas o médico que não possui esse sistema está em uma situação altamente angustiante. […] Diante disso, ele vai ter que decidir levando em consideração a possibilidade de tratamento. O médico tem obrigação de decidir”, destaca.

Ouça a entrevista completa no player acima.


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