Brasil pode aproveitar crise para reativar indústria

Paulo Feldmann diz que atual cenário muda rapidamente e que o País tem de aprender a fabricar, pois globalização deve sofrer grande impacto daqui para a frente

 17/04/2020 - Publicado há 4 anos
Logo da Rádio USP
Foto: Mediamodifier – Via Pixabay

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve sofrer retração de 5,3% em 2020, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Seria o pior desempenho econômico do País em décadas. O efeito cascata da crise é mundial. O FMI informou no mais recente relatório que o PIB global deve recuar 3% e está se esforçando para auxiliar países neste momento difícil que parece superar a crise econômica de 1929.

O professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, afirma, ao Jornal da USP no Ar, que “essa crise impressiona pelo fato de as previsões mudarem drasticamente a cada 15 dias. Agora já se prevê uma recessão e queda muito grande no crescimento deste ano e a situação é terrível, porque não se tem uma ideia do futuro e é muito provável que essa situação piore ainda mais”.

Mesmo a China, que já saiu do auge da crise do novo coronavírus e busca a retomada de suas atividades econômicas há algumas semanas, já colhe um resultado negativo. A economia chinesa encolheu 6,8% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. “Ainda não se sabe quando, efetivamente, o bloqueio das atividades vai terminar aqui no Ocidente “, aponta Feldmann, que ainda diz temer por números piores que os projetados até agora. Na busca para minimizar esses danos, o FMI e o Banco Mundial já oferecem suporte financeiro para países, principalmente os mais pobres da África e América Latina, perdoando dívidas e permitindo a utilização de seus escassos recursos no combate à pandemia.

Como analisa o professor, o Brasil ainda está na fase anterior do pico de casos. Depois do pico, o País ainda enfrentará um longo período para lidar e respeitar o distanciamento e isolamento social. Por isso, se exige forte atuação do governo, que hoje já criou auxílios financeiros para as pessoas, aumentou o aceite do Bolsa Família, oferece empréstimos às empresas, além de novas linhas de crédito. Tendo recursos finitos, é chegada a hora em que não vai dar para intervir tanto na economia interna, e se pense em evitar dívidas exageradas.

“Precisamos criar imediatamente impostos sobre riquezas, mas também facilitar a vida de quem doa, por exemplo, abatendo o valor doado no seu Imposto de Renda”, recomenda Paulo Feldmann. Além dessas medidas emergenciais, ele fala da urgência do Brasil ter um plano a longo prazo, definindo o que é ou não prioridade para lidar com as consequências da crise gerada pela pandemia, como a incapacidade industrial de produzir bens relativamente simples como máscaras e ventiladores. “Os países precisam reaprender a fabricar, não vai dar para comprar o que precisa da China, nem buscar matérias-primas da África e Índia. Temos que aprender a fabricar. […] Daqui para frente a globalização sofrerá um impacto muito grande.”

Ouça a entrevista completa no player acima.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.