Vacina em desenvolvimento na USP usa partícula semelhante ao coronavírus

Jorge Kalil explica que o método usado no projeto da vacina impede a penetração do vírus nas células, por meio de anticorpos bloqueadores

 18/03/2020 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 17/04/2020 às 16:39

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Foto: Manuella Brandolff/ Palácio Piratini via Fotos Públicas

 


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A vacina para o coronavírus está em desenvolvimento por pesquisadores da USP. Os testes ainda não foram feitos em animais ou humanos, mas a expectativa é de que aconteçam dentro de alguns meses, resultando numa vacina com resposta rápida contra o vírus, possibilitando a criação dos anticorpos necessários.

Jorge Kalil – Foto: Ramon Moser / UFRGS

O professor Jorge Kalil, diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da USP, fala que o processo de desenvolvimento da vacina se dá a partir da criação de uma partícula semelhante ao coronavírus, o VLP (virus-like particle, em inglês), que, na verdade, é como se fosse um vírus oco, sem o material genético e, portanto, sem a transmissibilidade da doença, o que torna seguro usar em vacinas. “Colocamos as partes do coronavírus que são importantes para desencadear uma forte resposta do sistema imunológico, para emitir os anticorpos bloqueadores e impedir o vírus de penetrar nas células.”

A vacina em desenvolvimento no Brasil difere de uma outra que já está sendo testada nos Estados Unidos. No caso desta última, é utilizada a tecnologia mRNA, que insere na vacina uma partícula sintética do RNA mensageiro do vírus e, então, é injetada no organismo humano e instruída a produzir proteínas que possam ser reconhecidas pelo sistema imunológico. De acordo com Kalil, diferente das mRNA, as vacinas com VLP já possuem histórico de uso, como no papiloma vírus o HPV. As respostas tendem a ser mais robustas, enquanto a utilização da mRNA gera respostas mais tímidas.

O professor explica que a parte importante do vírus, a que penetra na célula e que é utilizada para a criação do VLP, são as coronas, ou espículas, que ficam na parte exterior do vírus. “No laboratório, a gente consegue sintetizar essa parte da proteína in vitro. A gente inclui esse peptídeo na partícula viral. São várias proteínas que sintetizamos e forma uma partícula, que colocamos junto a um pedaço do coronavírus que a gente escolheu.”

Jorge Kalil comenta ainda que o desenvolvimento da vacina para o novo coronavírus no Brasil se deu rapidamente devido a estudos prévios sobre outro tipo de coronavírus, anterior ao causador da covid-19. “Quando apareceu esse novo coronavírus, imediatamente usamos os sistemas que já estávamos trabalhando. Por isso, precisamos ter pesquisa em andamento e pessoas afinadas e ligadas nas coisas, porque, quando surge uma emergência como essa, dá para alterar o rumo.”

Ouça entrevista na íntegra pelo link acima.


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