Cigarros eletrônicos não ajudam a parar de fumar

Jacqueline Scholz Issa, do Incor, afirma que esses aparelhos geram dependência e não podem ser considerados como um tipo de tratamento

 01/08/2019 - Publicado há 5 anos
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O Brasil foi considerado referência no combate ao tabaco pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os dados são do 7º Relatório sobre a Epidemia Mundial do Tabaco, que tem foco nos progressos feitos pelos países para ajudarem as pessoas a deixar de fumar. Na avaliação do órgão, Brasil e Turquia se tornaram exemplos internacionais no combate ao tabagismo, tendo alcançado o mais alto nível das seis medidas Mpower, contidas no plano para reverter a epidemia do tabaco, como estabelecer políticas de prevenção e oferecer ajuda para parar de fumar.

O Instituto do Coração (InCor), do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP, promove estudos que visam a melhorar o tratamento contra a dependência. Jacqueline Scholz Issa, médica e coordenadora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor, contou ao Jornal da USP no Ar que o reconhecimento da OMS é bem fundamentado. “O Brasil fez e vem fazendo sua parte, já que medidas de combate ao tabaco têm sido adotadas há mais de 20 anos, como por exemplo aumentar o preço do cigarro, alterar propagandas, colocar selos que alertam o consumidor de que o produto é prejudicial, entre tantas outras. Esses fatores contribuíram com uma grande redução do número de fumantes no País”, conta.

Hoje, segundo a especialista, cerca de 9% a 10% da população brasileira fuma, e são caracterizados como viciados. Esse número já foi maior, mas o combate a esse cenário permanece em função do alto risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares em fumantes, as quais resultam em morte em 30% dos casos. O tratamento contra a dependência é oferecido pelo Ministério da Saúde e também pelo InCor, e visa inibir o desejo do paciente por tabaco. A doutora conta como isso funciona no HC: “Nossa taxa de sucesso atual é de 70%. Usamos técnicas comportamentais aliadas a medicamentos e permitimos que a pessoa fume isoladamente e ausente de qualquer outro atrativo que não seja o cigarro. O objetivo é tirar os fumantes daquele contexto de prazer e bem-estar ao qual estão acostumados, o que os ajuda a enxergar o tabaco de outra perspectiva, mais crítica e sem sensação de recompensa. Isso colabora com a redução do consumo de forma natural, até que parem totalmente de fumar”.

A especialista desmistifica o uso de cigarros eletrônicos, que ganharam fama por serem usados como uma saída para quem deseja abandonar o cigarro convencional. Ela explica que o uso desses novos aparelhos não pode ser considerado, sob hipótese alguma, uma forma de tratamento: “O cigarro eletrônico não é tratamento de tabagismo, é apenas uma forma que a indústria achou para vender seus produtos, já que o cigarro comum já tem um marketing falho, uma vez que todo mundo sabe que é ruim para a saúde. Essas novas formas, com substâncias que se vendem por promover novas sensações por aromas e sabores, continuam sendo perigosas no que se trata de riscos de infarto ou danos cardiovasculares severos. Eles são apenas formas que as empresas encontraram de continuar a gerar dependência à nicotina, e esses produtos também precisam ser regulamentados. Na minha opinião, poderiam inclusive permanecer proibidos no País, porque isso poderia comprometer o avanço na redução do número de fumantes”.

Os benefícios da reversão da epidemia de tabaco no Brasil não se restringem apenas a questões de saúde pública, mas também econômicas. “Gastamos, por ano, 57 bilhões de reais, com 18 milhões de fumantes no País. Imaginem se os cigarros eletrônicos fossem popularizados, qual o impacto que isso pode causar no SUS, que já está praticamente falido! Evitar doenças é uma boa maneira de promover uma vida saudável e economizar recursos financeiros”, explica Jacqueline.


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